segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Mural de Monografias




Estamos postando mais duas monografias dos nossos alunos concluientes do segundo semestre de 2009. Os títulos dos trabalhos são: Reivindicações das Mulheres Brasileiras no Século XIX de MONIQUE EVELING DOS REIS e APÓSTOLO PAULO:
DE PERSEGUIDOR A PERSEGUIDO PROPAGOU O CRISTIANISMO
de ANA FLÁVIA S.S. MARQUES


Boa Leitura para todos!!


UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
Licenciatura em História

Reivindicações das Mulheres Brasileiras no Século XIX
(1801-1900)
CABO FRIO
2009
MONIQUE EVELING DOS REIS




SUMÁRIO


Introdução ...................................................................................................................................01
Capítulo I – Aspectos Gerais da Vida Feminina ........................................................................06
Capítulo II – As Percussoras do Feminismo no Brasil ...............................................................12
II. a – No Século XVI .....................................................................................................13
II. b – No Século XVII ...................................................................................................14
II. c – No Século XVIII ..................................................................................................14
II. d – Enfim, no Século XIX .........................................................................................15
Capítulo III – As Primeiras Conquistas das Mulheres Brasileiras .............................................18
Considerações Finais...................................................................................................................23
Bibliografia .................................................................................................................................25

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem por objetivo analisar as primeiras reivindicações femininas no Brasil e a luta das mulheres que tiveram coragem de expressá-las. Vamos falar sobre a situação da mulher desde o período colonial, envolvendo as transformações acontecidas no Brasil no século XIX, suas reivindicações para a época e as suas primeiras conquistas. Esse estudo será desenvolvido através de uma pesquisa bibliográfica que realizaremos com a finalidade de analisar a integração da mulher na sociedade brasileira no século XIX, basicamente entre o período de 1801 a 1900, suas condições sócio-culturais, sua vida familiar, seus anseios e suas realizações. Os caminhos percorridos pelas mulheres para conseguirem sua “liberdade” não foram fáceis, elas lutaram e algumas até pagaram com a própria vida para verem suas reivindicações se tornarem grandes vitórias. Não podemos esquecer que a sociedade brasileira sofreu grandes transformações durante esse período de luta das mulheres. Um exemplo disso foi o rápido crescimento da vida urbana tendo em vista novos valores e novas alternativas de convivência social, a consolidação do capitalismo e também a ascensão da burguesia que traz consigo uma mentalidade diferente. Enfim grandes transformações econômicas, políticas e também culturais.
Muitas pessoas acreditam que o movimento feminista acabou, devido à escassez de passeatas e reuniões para discutir sobre direitos das mulheres, todavia, ele se mantém vivo e com força total. O movimento feminista não permanecera tão ativo quanto antes, porém ainda possui o mesmo ideal. As mulheres não desistem de defender os seus direitos e buscar a cada dia mais o seu espaço dentro da sociedade, afinal, o preconceito ainda se mantém de pé em relação às mulheres do Brasil. As brasileiras continuam lutando por igualdade, ainda é possível ver mulheres desempenhando papéis que outrora eram desempenhados por homens, e mesmo tendo um desempenho similar, continuam ganhando salários reduzidos por ainda sofrerem preconceitos. Apesar dessa luta ter começado há alguns séculos atrás, o preconceito ainda existe, principalmente porque as mulheres vem desempenhando papéis que pertenciam aos homens, como exemplo, motoristas de ônibus e táxis, mecânicas, eletricistas, entre muitas outras profissões.
Esse trabalho foi elaborado através da biografia de algumas “feministas”, mulheres que ansiavam por uma vida melhor, digna e liberal, onde pudessem ter acesso à educação, ter o direito ao trabalho, privado e público, ou seja, mulheres que buscavam independência. Vamos relatar alguns acontecimentos anteriores, nos séculos XVI á XVIII, antes de chegar ao nosso verdadeiro objetivo. É impossível entendermos a história destas mulheres sem antes saber a origem desse preconceito, como ele surgiu e para que surgiu. Vamos falar dessas feministas, mas não no sentido de movimento, pois o Movimento Feminista só surgiu no fim do século XIX, na Inglaterra, e estendeu-se para outros países como Estados Unidos, França e com um grande atraso chegou ao Brasil. Antes disso as mulheres lutavam sozinhas, procuravam mostrar para a sociedade preconceituosa que estas tinham tanto direito quanto os homens, e que elas tornariam-se produtivas se possuíssem o direito a educação com ênfase ao mercado de trabalho, e não somente as necessidades do lar. Muitas mulheres de diferentes países tentavam fazer a sua própria revolução para mudar a situação de clausura em que viviam.
Não podemos esquecer que como existiam mulheres que lutavam para ter direito ao trabalho, educação, outras se encontravam satisfeitas com a vida que tinham, queriam continuar vivendo debaixo da ordem de seus maridos, cozinhando, lavando, engomando, cuidando dos filhos e sendo uma excelente esposa. (Novaes, 1998, p. 381), Ana Rita Malheiros escreveu um artigo publicado na Revista feminina em 1918 “falando que a culpa da mulher entrar no mercado de trabalho é do homem, pois este não teve competência para liderar e manter o lar, precisando a mulher trabalhar para ajudar nas despesas da casa. E que se não fosse por esse motivo as mulheres continuariam com sua vida de sempre”.Esse trecho mostra que à vontade de mudar não era de todas, por viverem assim por muito tempo achavam que não precisariam mudar, se nasceram rodeadas de preconceitos deveriam morrer rodeadas dele.
Como em quase toda a história da humanidade, a mulher se manteve “por trás dos bastidores”, apesar de ter participado de alguns confrontos e enfrentado de frente algumas guerras, quase nenhuma história, documentos e escritos foram encontrados a respeito deste assunto. Isso dificulta bastante o trabalho de historiadores que possuem interesse nessa área, pois torna inviável a comprovação dos fatos devido à falta de fontes específicas. Porém o trabalho de alguns historiadores remanescentes e algumas mulheres escritoras ajudou na elaboração de materiais que relatavam alguns procedimentos e reuniões sobre os direitos das mulheres e sua busca por liberdade. Devido a estes materiais pode-se comprovar a real existência da árdua batalha que estas mulheres sofreram para obter o mínimo de direito e reconhecimento social.
Os caminhos da história da mulher não se contam de modo claro e definido. São percursos sinuosos, intricados, ao longo dos quais o historiador precisa dispensar cargas de muito preconceito presente nas fontes, desconfiar de suas lacunas, duvidar de suas verdades. ( PRIORE, 2004, p. 142)

Ao decorrer desse trabalho vamos perceber que a história da mulher não segue uma norma ou padrão, nem tão pouco uma linha de tempo regrada. Ao contrário, como foi em toda a história do Brasil, os acontecimentos se deram de acordo com as classes sociais: senhores feudais, servos, burgueses e proletários, aristocratas e plebeus, ou seja, os mais ricos e os mais pobres. Podemos ver que em toda a história sempre existiu os mais abastados e os menos favorecidos e essa diferença contribuiu para que a história tomasse diversos rumos. E não fora diferente com as mulheres, muitas de famílias ricas tinham a oportunidade de fazer viagens internacionais e conhecer novas pessoas, novas culturas, enquanto outras morriam sem conhecimento de outros lugares. Mulheres que não precisavam e não tinham o direito de trabalhar limitando-se apenas ao lar e outras que para sustentar a família trabalhavam ainda crianças. É de fácil percepção a distorção na evolução do pensamento social sobre a mulher entre os séculos, pois existiam mulheres independentes em tempos anteriores ao século XIX, evidenciando a total inconsistência no direito real feminista na sociedade dentre os séculos.
“A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”, “As ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante”, essas famosas frases escritas por Karl Marx esclarecem como o Brasil foi formado e como foi construída história do nosso país, através da elite, do pensamento das classes mais ricas consideradas as dominantes. Ou seja, tudo gira em torno da economia, e será exatamente isso que vamos ver. Cada mulher vivia de acordo com suas condições. Pois não podemos falar dessas mulheres reprimidas como um todo, pois estas faziam parte da elite, tinham que manter a reputação da família e por isso eram subestimadas a viver conforme ordenava seus pais ou maridos. Existiam também mulheres que viviam sem regras, que trabalhavam sem cessar para garantir o sustento de sua família, que enfrentavam o trabalho braçal para que seus filhos tivessem o que comer, pois ao contrário da elite, essas não herdavam fortunas, nem tão pouco possuíam dotes a oferecer para grandes e ricos homens que casassem com elas. Vamos analisar nesse trabalho essas diferenças exorbitantes que existiam em uma mesma época.
Alguns historiadores como Gastão Penalva e Francisco Varnhagen citados no livro Dicionário Das Mulheres Do Brasil , fala sobre Madalena Caramuru, que é considerada a primeira mulher brasileira letrada, e essa dádiva é atribuída ao seu marido Afonso Rodrigues, que incentivou e ajudou Madalena Caramuru a entrar no mundo das letras, eles se casaram na Bahia no ano de 1534, e em 1561 Madalena Caramuru escreveu uma carta ao bispo de Salvador mostrando sua indignação em relação aos maus tratos que sofriam as crianças negras. Já nessa época podemos ver que a mulher já lutava não apenas por direito delas, mas também com uma visão mais ampla em relação á sociedade.
Oferecia a quantia de 30 peças para o resgate das ‘pobres crianças’, que não tinham forças para o trabalho, afirmava que os negociantes de negros queriam que a morte as levasse depressa e lamentava que a Bahia, ‘que ainda ontem era berço de uma geração pura’ tivesse passado a ser vitima do domínio de negociantes negreiros, que a cada navio que chega despejam na praia, para serem vendidos em leilão, os inocentes pretos dignos de melhor sorte. (SHUMAHER e VITAL BRAZIL, 2000, p. 350).

A história dessa luta incansável começou com um pequeno grupo de mulheres insatisfeitas e corajosas: insatisfeitas com a vida que a sociedade criou para elas viverem, uma vida apenas de casa, filhos e submissão. E extremamente corajosas por ultrapassarem os limites da lei criada pelos homens para mantê-las sempre presas e inferiores. Acredita-se que essa insatisfação da mulher começou ainda no século XV, mas como falamos acima, nessa época a mulher não tinha autonomia nenhuma para falar ou reivindicar qualquer coisa. Mas as mulheres apesar das dificuldades encontradas ao longo do caminho não desfaleceram em sua causa. Lutavam sem cessar para atingir um único objetivo inicial: o direito de estudar.
Aos poucos começam a surgir no Brasil pequenos grupos de mulheres que lutam pela igualdade entre os sexos. Veremos também que a luta dessas mulheres não teve fim ao adquirir sua vitória em relação à igualdade procurada, mas estendeu-se para algo mais amplo. Depois que a mulher descobriu que o tamanho da sua força era suficiente para mudar suas condições, não exitou, passaram a lutar não apenas contra causas pequenas, mas também por questões gerais, contra políticos e militares e diversos preconceitos. Outros movimentos de libertação se unem as feministas para reivindicar seus direitos, como exemplo, negros e homossexuais. Muitas mulheres também começaram a se vincular à organizações e associações de moradores, clube de mães, que enfocava temas ligados á especificidade de gênero, como creches e trabalhos domésticos. E cada vez mais se proliferando entre diferentes grupos e lutando por causas e necessidades como sexualidade e combate á violência contra a mulher. Atualmente ainda é possível ver passeatas de mães que se unem para pedir justiça em relação á violência nas cidades, mulheres que lutam contra a exploração sexual, mulheres que acreditam na sua força e não cruzam os braços para os acontecimentos, mas lutam, se unem, fazem campanhas, vão as ruas com o objetivo de revogar melhores condições de vida para todos. Vemos então que a ação das mulheres é um tema presente até a atualidade e que suas reivindicações, guardadas as diferenças de época, continuam vivas e presentes no contexto da sociedade brasileira.
O preconceito ainda existe, porém, diferente de como era antes, temos tantas facilidades que muitas vezes nem pensamos em como era há alguns poucos séculos atrás, hoje as mulheres saem para votar em candidatos sem nem ao menos pensar que em séculos passados isso era uma realidade distante, pois não tinham direito ao voto, saem para trabalhar, ou mesmo se preparar para uma entrevista de emprego e lembrar que as mulheres antepassadas não podiam nem sonhar com isso; para nós, tudo hoje é muito normal, mas para essas mulheres que viveram anteriormente, foi difícil, tiveram um árduo trabalho para que hoje pudéssemos desfrutar das facilidades que temos para trabalhar, estudar, escolher com quem se casar e por quanto tempo manter este matrimônio, possuindo assim independência e direito a expressar suas idealizações e opiniões. Vamos falar sobre algumas mulheres que foram pioneiras no Brasil na busca pela educação, direito ao trabalho privado e público.

CAPÍTULO I
Aspectos Gerais da Vida Feminina

Não podemos falar da mulher brasileira do século XIX sem antes fazer um pequeno apanhado da situação em que elas viviam em tempos mais antigos. Por isso, vamos voltar no início de tudo para podermos compreender a vida dessas mulheres que lutavam por educação, trabalho, liberdade de expressão e igualdade. Desde a antiguidade até o século XIX, podemos perceber que a história das mulheres pouco mudou, pois sempre viveram suas vidas em prol dos homens, as mulheres estavam sempre debaixo do julgo de um homem, pois passavam suas vidas obedecendo a ordens de seus pais e quando casavam, saiam do julgo de seus pais para servirem a seus esposos.
Em quase todo o tempo a mulher foi preparada apenas para cuidar do seu lar, aprendendo a educar os filho e satisfazer a vontade do marido, como não podia frequentar escolas normais como qualquer homem, eram alfabetizadas em casa, tendo como grade escolar o aprendizado de escrever o próprio nome e fazer contas mentalmente. Também aprendiam a ter uma boa educação para que em público soubesse se comportar. As mulheres jamais poderiam sair de casa sozinhas, só era permitido caminhar nas ruas se estivesse acompanhada do esposo. Elas também aprendiam a arte de costurar, engomar, bordar e outros trabalhos domésticos. Ela não tinha o direito de expor suas opiniões, suas ideias e muito menos suas indignações. A autora do livro MULHERES DE ONTEM? RIO DE JANEIRO – SECULO XIX, fala sobre o pensamento masculino em relação à mulher e seu comportamento diante da sociedade.
A educação deve preparar a mulher exclusivamente para o lar e jamais contribuir para sua emancipação intelectual ou profissional; ideias evasivas que não chegam a definir educação feminina; a educação deve completar a formação feminina; a educação da mulher consiste sobre tudo em sua preparação moral e religiosa. (BERNARDES, 1989, p. 23)

Para a sociedade a mulher não poderia desenvolver qualquer tipo de atividade senão as atividades domésticas, e esse preconceito não é recente, podemos dizer que ele vem se perdurando desde a criação do mundo. O livro de Gênesis, que é um dos livros da Bíblia Sagrada fala sobre o pecado cometido por Adão e Eva, pecado esse que fez com que toda raça humana sofresse o castigo divino. Na concepção das pessoas, o homem sozinho não teria cometido pecado algum, mas foi após a criação da mulher que ele caiu no erro, e foi através dela que o pecado aconteceu. Mary Del Priori, em seu livro narra o pensamento do frei Yves d’Evreux que diz que “Adão obedecia aos preceitos divinos e não tocava no fruto proibido, mas Eva não apenas comeu do fruto como também ofereceu ao homem fazendo-lhe pecar também. Assim ficou a mulher destituída de todas as suas próprias vontades e sendo sempre controlada por um ser masculino”. Ou seja, para eles a mulher fora um ser errante desde sua criação, pois Eva não teve sabedoria e acreditou nas palavras proferidas por uma cobra e fez com que a humanidade pagasse por isso, pois ao contrário estaríamos vivendo ainda no paraíso.
Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu. Abriram-se então os olhos de ambos; e percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si [...] Disse o Senhor Deus a mulher: que é isso que fizeste? Respondeu a mulher, a serpente me enganou, e eu comi. [...] E disse Deus: multiplicarei sobremodo o sofrimento de sua gravidez; em meio de dores darás á luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governara. (Bíblia Sagrada, Gênesis cap. 03)

E esse mito se arrastou por muitos anos, até mesmo nos dias de hoje ainda ouvimos contos e piadas relacionados a esse texto. Esse talvez seja o primeiro motivo ou a primeira desculpa que os homens tinham em relação à repressão da mulher na sociedade. Pois a mulher não demonstrou coragem ou inteligência, e sim rebeldia e fraqueza. Ela comeu o fruto mesmo sabendo que este lhe era proibido, então como pode a mulher ter nas mãos algum tipo de poder se nem a si mesma soube governar sozinha? E pior, além de ter desobedecido às ordens de Deus e comido o fruto do pecado, instigou Adão a comer também demonstrando uma atitude covarde. Isso foi usado contra as mulheres de várias formas, como exemplo a submissão a seu esposo, ao fato de não poder expressar suas opiniões, por não poder frequentar escolas e universidades. A mulher personificada em Eva era tentadora, pecadora, tida algumas vezes como aliada de satanás e a única culpada da expulsão do paraíso, por isso ela sempre tinha que estar acompanhada da figura masculina para que não caísse em outros tipos de tentações e pecados.
A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja porem, em silencio. Porque primeiro, foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso.” (Bíblia Sagrada, Timóteo cap. 2)

Alguns escritores acrescentam que a mulher é um ser imperfeito por ter sido criada de uma costela torta, ou seja, a costela que foi utilizada para a criação da mulher era recurva dando a ideia de tortuosidade, ou seja, essa costela era contraria a retidão do homem. Enfim, a mulher significava para a sociedade um ser completamente imperfeito e incapaz de pensar e agir sozinha, a mulher era uma grande decepção para o ser masculino, uma obra que foi criada com defeito, não sendo considerada como objeto inválido devido ao seu dever de gerar filhos. Como podemos ver, a história desse preconceito é muito antiga, e vem se arrastando ao longo dos séculos, claro que cada dia ela perde mais as suas forças, mas infelizmente continua se perdurando por anos e anos até os dias atuais.
Por esses motivos, a mulher nunca deveria desempenhar um grande papel na sociedade, e com isso a história das mulheres quase passa despercebida, pois elas não poderiam exercer nenhum tipo de função ou mesmo contar e escrever sua história. Não é comum ouvir a história das rainhas, mas sim dos grandes reis. Das mulheres que deram suas vidas nas frentes de batalhas, mas sim de soldados fortes e corajosos. E mesmo aqueles que governaram com a ajuda de suas esposas, estas ficam em transparente aparecendo somente o nome de um grande homem. Poucas mulheres foram lembradas de forma digna e tiveram suas histórias escritas e relatadas.
Na Idade Média, esses relatos eram ainda mais escassos, pois quase não existia fonte de pesquisa relacionando a mulher nessa época. Geralmente os conceitos eram feitos pelos escolásticos e como nessa época a mulher para eles continuava sendo uma criatura apta ao pecado, eles pouco incluíam ou não incluíam as mulheres em seus escritos. E quanto mais distante a época em que procuramos fontes sobre as mulheres, mais descobrimos o silêncio que estas apresentam.
Quando os portugueses descobriram o Brasil, eles ainda não haviam dado conta da verdadeira situação que o povo vivia por aqui. Ao descobrir o Brasil eles ficaram encantados com o enorme número de plantas e a diversidade de madeiras e raízes que o Brasil possuía, poderíamos dizer que era um “verdadeiro paraíso”. Quando Portugal veio terminantemente colonizar o Brasil eles se depararam com uma situação caótica que ainda não tinham percebido. Os índios não estavam acostumados com a civilização e viviam suas vidas de forma simples, sem regras, não existiam casamentos, a maioria eram concubinatos. As poucas mulheres européias que vieram para o Brasil, tiveram uma liberdade nunca vista antes na Europa, pois elas podiam ir e vir na hora que quisessem e onde quisesse sem ter que dar satisfação para ninguém. Mas essa liberdade não durou por muito tempo, pois a igreja passa a assumir o seu papel após Portugal decidir colonizar definitivamente o Brasil. A igreja começa a exigir uma nova conduta da mulher para que esta fosse aceita pela sociedade, e impõe muitas regras, podemos dizer que a igreja dá início á um processo de reeducação. A igreja junto ao Estado remodela o papel da mulher na sociedade e no Brasil esse é o começo da repressão contra a mulher, é onde nasce o preconceito e cria-se a imagem do sexo frágil que se estende até a atualidade.
Mulheres casadas ganhavam uma nova função: contribuir para o projeto familiar de modalidade social através de sua postura nos salões como anfitriões e na vida cotidiana, em geral, como esposas modelares e boas mães. Cada vez mais é reforçada a ideia de que ser mulher é ser quase integralmente mãe dedicada e atenciosa, um ideal que só pode ser plenamente atingido dentro da esfera da família burguesa e higienizada. ( PRIORE, 2004, p. 229).

A mulher perde sua autonomia, sua liberdade devendo ficar confinada em casa cuidando de seus afazeres domésticos. A igreja ditava o comportamento feminino, suas vestes e sua liberdade de observação do mundo exterior. E as mulheres que ousavam desrespeitar as novas regras eram vistas como mulheres de vida fácil e vulgar. A igreja tentava atingir o psicológico das pessoas, mostrando que não existia outro caminho senão as regras impostas por ela. No casamento, por exemplo, o sexo deveria ser feito apenas com fins procriativos, do contrário era visto como coisa do diabo. A sociedade se torna patriarcal e o homem passa a fazer e a tratar sua esposa e filhos com braço de ferro, até mesmo a violência era permitida desde que não levasse a morte. As mulheres casavam-se muito jovens, pois aos quinze anos de idade acreditavam que elas já haviam perdido o viço da juventude, ou seja, casavam-se ainda crianças, enquanto pensavam em brincar de bonecas, seus casamentos já estavam sendo arranjados e estas já teriam que encarar um lar, uma família, filhos e maridos que na maioria das vezes eram extremamente autoritários.
A vida da mulher começa a ficar restrita ao trabalho doméstico, vista como um ser meramente pro - criativo, e as que não se encaixavam neste perfil, passavam pela humilhação de serem devolvidas para seus pais ou mandadas para um convento, sem ao menos saber de qual das partes vinha à infertilidade. Elas também não possuíam autorização para falar de seus anseios e sonhos, tudo deveria ser resolvido através da fé e das orações. Eram nos confessionários que as mulheres se libertavam de sua ira e liberavam o ódio que sentiam, afinal, não havia mais ninguém com quem elas pudessem dividir seus desejos e compartilhar suas limitações. E foi com essas confissões que a igreja passou a ter não apenas autoridade sobre as mulheres, mas também total acesso à mente delas, pois estas confessavam seus sonhos e anseios tornando-se vulneráveis a interpretação positiva ou não do clero. Assim a igreja sabia exatamente o que fazer na hora certa para que a sociedade permanecesse em ordem. A igreja criava mitos e tabus para convencer as pessoas que o casamento possuía muitas vantagens.
E para aquelas que mesmo assim insistiam em continuar vivendo de forma errada, desobedecendo e ignorando as ordens impostas pela igreja, foi criada uma multa altíssima como forma de conter a desordem. Enfim, restavam às mulheres, duas alternativas, ou aceitavam esse novo padrão de conduta da igreja e viviam suas vidas debaixo da autoridade de seus maridos e da própria igreja voltadas única e exclusivamente para o lar cuidando de seus filhos e sendo uma esposa dedicada, ou eram vista como mulheres de vida fácil sendo excluídas e afastadas da população.
Após todas essas mudanças a mulher brasileira passou a viver numa situação árdua, os homens cada vez mais criavam jargões como sexo frágil, ofendendo as mulheres e anunciando a inverdade da fraqueza feminina e sua invalidez. Elas sempre tinham que seguir os padrões da época, saindo de casa apenas para ir à igreja e mesmo assim acompanhadas, pois seu direito e dever era apenas de manter o lar organizado na mais perfeita ordem. Entre as mulheres aristocratas, o casamento era arranjado pelo pai, algumas vezes quando ainda eram crianças. A mulher se casava e se tornava propriedade de seu marido, algumas meninas eram obrigadas a casar com idade de oito anos. Depois de casada, elas passavam a ser objeto de seus maridos devendo sempre fidelidade e obediência, e para lhes dirigir a palavra deveria usar formas de tratamento como meu amo e meu senhor. Algumas mulheres sofriam agressões físicas e não podiam fazer nada contra isso, pois a própria lei era favorável ao homem permitindo agressões quando este achasse que a esposa tinha desobedecido a suas ordens, e poderia ate mesmo cometer homicídio se a mulher adulterasse e fosse pega em flagrante.
As mulheres de classes mais baixas eram livres dessa opressão, pois não tinham casamentos arranjados com homens que possuíam algum tipo de riqueza e nesse caso cabia a elas trabalhar para manter seu próprio sustento e de seus filhos, podendo assim escolher com quem casar ou quando casar e também até quando ficar casada, pois não havia nenhum tipo de regra ou oficialização em relação ao casamento.
Ao solidificar a concepção das esferas separadas, a mulher foi convocada a assumir a direção do lar em nome de uma determinada definição de família, e o homem o papel de provedor e chefe dessa família. Isso acabou por encobrir grande parte da população masculina, que nas primeiras décadas do século vivia a margem de um trabalho regular; como também da feminina, que mediante ao trabalho remunerado se constituía na única provedora do lar e responsável pelos filhos, já que a presença do pai não é, como nunca foi, uma realidade absoluta em todas as famílias. (NOVAES, 1998, p. 421)

O casamento diferente de hoje não era por amor e com respeito, mas sim por interesses. Os casamentos geralmente visavam o aumento de terras. Muitos colonos casavam-se apenas como objetivo de conseguir o dote oferecido pelos pais da moça, eles queriam acúmulo de riquezas, não queriam compromissos. Entre os escravos também era notório esse tipo de interesse, os senhores arranjavam casamentos para eles visando em obter algum tipo de lucro, e realmente conseguiam, pois se a escrava tivesse um filho, este já nasceria escravo sem os senhores precisar pagar nada por ele e, além disso, os senhores conseguiam conter o número de fugas, afinal, seria muito mais complicado fugir com mulheres e filhos do que fugir sozinho, e se casados, os escravos não abandonariam suas famílias para fugirem sozinhos deixando-os para trás.
A vida das mulheres negras era pior em demasia, trazidas para o Brasil e escravizadas, elas não tinham direito de contestar nada, poderiam ser submetidas a todo tipo de violência, pois era tida como um verdadeiro objeto para uso dos senhores. Estas tinham que trabalhar na casa grande como amas de leite e também satisfazer os desejos sexuais do senhor, pois a igreja determinava que a relação entre marido e mulher seria apenas para fins procriativos, não poderia acontecer por desejo ou por prazer, e por isso, os senhores realizavam suas fantasias sexuais com as escravas, afinal, esta não possuía família, não precisavam zelar por uma reputação, e não eram consideradas mulheres, nem pessoa e sim um objeto, podendo o senhor usá-las como quisesse. As escravas também eram usadas para iniciar a vida sexual dos filhos dos senhores. Quando eram escolhidas jovens as mães escravas nada podia fazer para guardar a honra de sua filha e quando casada, o marido tinha que aceitar calado a essa “infidelidade” forçada, e tinham que suportar as libidinagens para não sofrer torturas e castigos. As esposas dos senhores muitas vezes enciumadas e com medo de seu casamento desandar, pois sabiam que os maridos mantinhas relações com as escravas, acabavam submetendo-as a castigos e humilhações.

CAPITULO II
As Percussoras do Feminismo no Brasil

A corte chega ao Brasil trazendo muitas mudanças para a sociedade, ela trás o Teatro Real, a Escola Médica, Jardim Botânico, O Banco do Brasil, entre outras, mas para as mulheres quase nada mudou. Pois as Universidades só poderiam ser frequentadas pelos homens, e ainda era complicado encontrar uma escola onde a mulher pudesse estudar e aprender a ciência que ela tanto procurava. As mulheres passaram apenas a ter acesso a festas e ao teatro sempre acompanhadas de seus maridos. E para que na frente das pessoas elas não se mostrassem ignorantes, passaram a ser educadas para saber falar, conversar e se comportar de forma agradável. Não podemos esquecer que nessa época as mulheres eram apenas educadas e não instruídas, pois seu conhecimento geral continuou desvalorizado, e a mulher permaneceu sob a autoridade de seu pai ou marido. A sociedade ainda continuava com um pensamento preconceituoso.
Tal mistério era refutado por uma crença geral: a fêmea não devia ser mais do que terra fértil a ser fecundada pelo macho. Segundo Aristóteles (384 – 322 a C.) era o homem que insuflava a alma, vida e matéria inerte produzida no útero da mulher. No entender de muitos médicos da época, a mulher não passava de um mecanismo criado por Deus exclusivamente para servir a reprodução. Assim como a pluma do poeta ou a espada do guerreiro, ela era só um instrumento passivo do qual se dono se servia. ( PRIORE, 2004, p. 82)

Apesar disso, não podemos descartar a ideia de que a chegada da corte foi uma porta, um pequeno primeiro passo para a mulher ter acesso a mundo que ela desconhecia. Pois foi com a presença constante nessas festas que a mulher pôde criar um contato maior com intelectuais abrindo uma porta para o seu desenvolvimento social. Para aquelas que realmente tinham sede de mudança, a corte foi uma ajuda para que a mudança começasse a acontecer. Aprendendo a ter uma visão mais expansiva, a ter visão do mundo em geral e enxergar que a vida das mulheres no Brasil estava muito atrasada em relação ao outros países e que já era hora de mudar, que a vida de autoritarismo vivida por elas já estava ultrapassada, e que o domínio que os homens tinham sobre elas deveria acabar.
As mulheres passaram muitos anos de submissão e obediência à seus pais e maridos, mas, chegou uma hora em que elas, ou melhor, algumas delas, perceberam que era tempo de mudar, de lutar e de vencer esse preconceito que por muitos séculos assolara suas vidas.
Guarde-se bem o homem de ter a mulher para seu joguete, ou sua escrava; trate-a como uma companheira da sua vida, devendo ela participar de suas alegres e tristes aventuras; considere-a desde o berço até seu leito de morte, como aquela que exerce uma influência real sobre o destino dele, e por conseguinte sobre o destino das nações; dedique-lhe, por último, uma educação como exige a grande tarefa que ela deve cumprir na sociedade como o benéfico ascendente do coração; e a mulher será como deve ser, filha e irmã dedicadíssima, terna e pudica esposa, boa e providente mãe. (FLORESTA, 1997, p.117)

As mulheres passaram a reivindicar seus direitos, a começar pela educação, que podemos dizer que é o principio básico de todas as suas reivindicações, elas queriam mostrar que a mulher instruída seria tão boa mãe e esposa quanto as que eram iletradas. Algumas delas se levantam contra o preconceito masculino e também o preconceito da sociedade em geral e começam a buscar essas mudanças. As mulheres queriam ingressar no mercado de trabalho, ocupar cadeiras das universidades e sair do mundo fechado em que viviam há muito tempo.
Como já falamos, muitas mulheres de diferentes séculos lutavam por diferentes causas, lutavam por educação, pelo fim da violência no casamento, pelo direito de trabalhar, pelo direito de votar, lutaram pela vida de seus maridos, enfim, por aquilo que achavam que era certo. Podemos citar alguns nomes de mulheres que se destacaram ao longo da história.

II. a - NO SECULO XVI
Brites Mendes de Vasconcelos, filha de família nobre veio para a colônia e casou-se com um colono chamado Arnal de Holanda, aqui eles ganharam de donatários de Pernambuco seismarias e começaram a levantar engenhos. Após alguns anos, ela ficou viúva administrando sozinha todos os engenhos construídos por eles. Brites teve oito filhos e a maior parte da elite dominante na capitania fazia parte de sua família.
Uma outra mulher que podemos citar é a Ana Pimentel, casada com o português Martim Afonso de Souza que recebeu a donataria de 100 léguas em São Vicente, junto com o marido ela administrou a capitania. Martin Afonso com medo de iniciar um conflito que pudesse colocar o projeto da colonização abaixo proibiu os colonos de subirem a serra, porem, Ana Pimentel passou por cima das ordens dadas por ele e permitiu o acesso a essas terras devido ao clima ser mais agradável e o solo mais fértil. Ela é responsável pela introdução do cultivo de trigo, arroz, e a criação de gado, ela também providenciou o cultivo de laranja para combater a doença que atacava os embarcados, o escorbuto se dava pela carência de vitamina C no organismo. “O papel de Ana Pimentel na administração da capitania não mereceu da história oficial o reconhecimento merecido e os méritos os méritos recaem sobre seu marido, que é um dos primeiros nomes que os livros de história lembram como tendo grande importância na construção do Brasil colonial”. ( Priore, 2004, p. 64)
II. b - NO SECULO XVII
Aqualtune era uma princesa do século XVII, filha de um grande rei do Congo liderava várias guerras e uma delas contra um outro reino africano, á frente de um exército de 10 mil guerreiros foi derrotada, aprisionada, trazida para o Brasil e vendida como escrava reprodutora. Mas Aqualtune não aceitou essa situação e ouvindo falar da resistência negra á escravidão, organizou uma fuga junta á outros negros. No quilombo ela se tornou líder de uma aldeia, pois os negros respeitavam a origem da pessoa e reconhecia que Aqualtune era uma princesa no Congo que liderou vários exércitos. Aqualtune morreu de forma dolorosa, já idosa, ela foi queimada quando o bandeirante Domingos Jorge Velho invadiu quilombo para destruir a capital Palmares. Aqualtune é conhecida como avó do Zumbi, o negro que virou um símbolo da Consciência Negra devido a sua resistência.
II. c - NO SECULO XVIII
Vitória da Conceição é outro exemplo de mulher, que no século XVIII era escrava e após receber sua alforria casou-se com um escravo e lutou para que este também fosse liberto. Vitória inicia sua luta pela alforria do seu marido no ano de 1774 oferecendo ao seu senhor o valor de $140.000,00 (cento e quarenta contos), nessa época se oferecido ao senhor equivalente ao preço pago pelo escravo este vendia a alforria, porém o senhor Antônio Gomes não quis vendê-lo alegando ter investido e treinado esse escravo para ser pedreiro e, portanto valia muito mais do que o preço pago por ele. Mas Vitória não desistiu. Procurou uma pessoa livre e letrada para ajudá-la e conseguiu levar seu problema as mãos do governador que intercedeu a favor dela. Não podemos esquecer que estamos falando de uma mulher do século XVIII, e que de acordo com o Dicionário das Mulheres do Brasil, ela possuía terras e até mesmo negócios. “Em primeiro lugar, afirmou Vitória, nos autos do processo, não ser verdade que desejasse viver sob a proteção do senhor do seu marido, uma vez que já era forra e possuía casas próprias. Em outros termos, possuía bens que havia ganho ‘com a sua indústria e negócios’[...]” (Shumaher e Vital Brazil, 2000, p. 526)
Muitas pessoas conseguiam comprar escravos, mas o caso de Vitória era diferente, afinal ela além de mulher era uma ex-escrava, podemos imaginar a determinação que esta mulher tinha e como ela lutou para conseguir a alforria de seu marido. Não deve ter sido fácil para uma ex-escrava conseguir reunir dinheiro suficiente para conseguir pagar a liberdade do seu companheiro.
II. d - ENFIM, NO SECULO XIX
Nísia Floresta Brasileira Augusta foi considerada a primeira mulher no Brasil a enfrentar a sociedade com coragem e ousadia. Ela foi uma mulher muito á frente do seu tempo e revelou sua coragem em seus escritos. Nísia se apresentou com suas idéias quando o Brasil ainda engatinhava em relação à independência da coroa portuguesa. Ela era uma mulher decidida e disposta a lutar por seus objetivos que eram a educação das mulheres e a situação delas no mercado de trabalho. Nísia não aceitava o fato dos homens proibirem que as mulheres ocupassem cargos como professoras de universidades, advogadas e médicas. Não se atribuía esse direito ás mulheres porque elas não possuíam conhecimento suficiente para isso, e essa situação se tornava um circulo vicioso.
[...] por que a ciência nos é inútil? Porque somos excluídas de cargos públicos; e por que somos excluídas dos cargos públicos? Porque não temos ciência. Eles nem conhecem a injustiça que nos fazem; e este conhecimento os reduz ao discurso e disfarça a má fé a custa de sua própria razão. Porem deixemos falar uma vez a verdade: por que se interessam tanto em nos separar das ciências a que temos tanto direito quanto eles, senão pelo temor de que partilhemos com ele, ou mesmo os excedamos na administração dos cargos públicos, que quase sempre tão vergonhosamente desempenham? O mesmo sórdido interesse que os instiga em invadir toda dignidade os determina a privar-nos desse conhecimento, que nos tornariam suas competidoras. (AUGUSTA, 1989, p. 52)

Podemos perceber nesse trecho escrito pela Nísia o sentimento de revolta que sentia devido aos homens serem dominados pelos preconceitos da época. Ela não aceitava o fato de ser inferior devido a ausência de conhecimento nos assuntos específicos, e para ela os homens só as privavam dos cargos públicos por medo de serem superados, pois não havia nenhuma outra explicação lógica para isso. As mulheres poderiam se tornar rivais ou ate mesmo desenvolver melhor as tarefas que os homens desenvolviam, não por ser superior aos homens, mas sim por serem iguais. Se as mulheres tivessem a oportunidade de entrar para o mercado de trabalho e desenvolver certas tarefas a sociedade perceberia que não existe superioridade ou inferioridade em relação aos homens e mulheres, mas que ambos são iguais e possuem a mesma capacidade de aprender e se desenvolver. Essa foi á única explicação que Nísia encontrou para entender esse preconceito que perseguia as mulheres no século XIX.
Nísia casou-se obrigada aos treze anos de idade com Manoel Alexandre Seabra de Melo, mas seu casamento não deu certo, e como era uma mulher destemida, separou-se do marido e casou-se com Manoel Augusto de Faria Rocha mesmo recebendo ameaças e sendo acusada de adultério pelo seu antigo marido. Manoel Augusto ao contrario de muitos homens preconceituosos, permitia que Nísia o acompanhasse em todos os eventos que freqüentava e incentivava seu aprendizado. Ela já conhecia a cultura européia e dominava os idiomas francês e italiano.
Nísia era uma mulher muito esforçada e inteligente, viveu na Europa por aproximadamente 28 anos e nessas viagens ela pode conhecer e se aproximar de grandes pensadores como Auguste Comte, George Sand, Feliciano de Castilho, entre outros intelectuais da época. Na companhia destes ela pode ampliar seus conhecimentos e sua visão de mundo. E aconteceu com Nísia aquilo que os homens tanto temiam que acontecesse com a mulher brasileira: o contato com o conhecimento. Uma pessoa quando leiga fica impossibilitada de opinar ou revogar alguma coisa, não existe senso crítico sem conhecimento no assunto em questão, mas se existir o conhecimento, logo passa a existir também os questionamentos e as críticas. Sem suportar a situação em que as mulheres eram submetidas no Brasil, Nísia luta pelos direitos mesmo que sozinha. Ela traduziu o livro de uma feminista inglesa chamada Mary Wollstonecraft, Vindication of the rights of woman e publicou para que todas as mulheres, ou pelo menos a maioria, tivessem acesso a esta obra. Ela queria mostrar para as mulheres o quanto elas eram injustiçadas e assim enxergar que não precisavam viver esse prejuízo para sempre, Nísia queria mostrar que cada mulher carregava dentro de si uma força capaz de lutar e vencer todos os obstáculos e preconceitos.
Muitas pessoas na época, homens e ate mesmo mulheres não aceitavam e se escandalizavam com a postura que Nísia assumia naquele momento. Ela não queria competir com os homens, nem superá-los, apenas queria ter acesso a educação. Podemos imaginar o impacto que o comportamento de Nísia causou na sociedade brasileira, num século onde as pessoas estavam acostumadas com suas vidas paradas e vazias, os homens sempre dando ordens e se sentido seres superiores, enquanto as mulheres se empenhavam nos serviços do lar e cuidavam dos filhos. Nísia aparece com idéias revolucionárias pedindo direitos iguais, tentando fazer com que as pessoas começassem a pensar com a razão e não simplesmente ficarem presas aos costumes. Tentava inserir nas pessoas uma nova forma de pensar, o fato de a mulher ter sido prejudicada durante a maior parte da história não significa que deveria continuar assim. As coisas poderiam e deveriam mudar, e se as mulheres abrissem um pouco suas mentes iriam perceber que as lutas eram para conquistar um espaço na sociedade.
Nísia assumiu a direção do Colégio Augusto inovando os estudos que eram oferecidos para as meninas, ela oferecia um projeto educativo que combinava o ensino tradicional com os trabalhos manuais (cozinha, costurar, engomar), e também conhecimentos sólidos, específicos (português, matemática, geografia e línguas estrangeiras). Em tempos anteriores ao da Nísia à educação era precária ate mesmo para os homens, pois eram oferecidos nos colégios apenas ensinos sobre a religião.
Mantida pelas ordens religiosas, a instrução não se orientou de fato pelos rumos das aspirações do século. As casas de ensino eram primordialmente casas de formação sacerdotal. Alias não seria possível imaginar que as coisas se passass8999em de outra forma. A obrigação de ensinar a mocidade resultava, até então, muita mais de determinações canônicas do que de regias ordenações. Parece-nos natural, portanto, que as aulas ‘externas’ fossem raras nos estabelecimentos religiosos, que se instalaram nas terras brasileiras. (HOLANDA, 1984, p. 89).


CAPITULO III
As Primeiras Conquistas das Mulheres Brasileiras


Durante quase todo o século XIX a maior atividade econômica do Brasil foi o café, devido ao solo fértil e o clima ser bastante favorável ao seu cultivo, Minas Gerais que mantinha sua economia baseada na mineração também passou a investir no plantio do café após a queda da mesma, e no Rio de Janeiro esse plantio se espalhou alcançando muitas cidades e também o comércio exportador. O numero de escravos nesse período cresceu ligeiramente, pois quanto mais o Brasil exportava, mas precisava de mão de obra escrava para fazer o serviço. Esse crescimento acelerado de escravos trouxe as campanhas abolicionistas, o que não agradava nada aos grandes fazendeiros e barões de café, pois escravos para eles significavam dinheiro, afinal eles pagavam por eles, e caso os escravos conseguissem a liberdade eles perderiam um de seus maiores bens. Acreditavam ate mesmo que a economia do país se enfraqueceria devido a essa perda, pois a classe que sustentava o país com a abolição perderia grande parte das suas possessões.
Por esse motivo o Brasil foi um dos últimos países a aceitar a abolição e nesse contexto podemos ver mais uma vez o trabalho de uma mulher, a princesa Isabel, que primeiramente assinou a Lei do Ventre Livre no dia 28 de setembro de 1871 que declarava livre todos os filhos de escravas nascidos a partir dessa data, e em 1888 assinou uma Lei denominada Lei Áurea que finalizou a escravidão dos negros no Brasil, e foi pela mão de uma mulher que esse fato tão esperado aconteceu.
Embora a historiografia oficial trate com pouco destaque a regência da princesa Isabel, o período em que ela esteve a frente do governo reveste-se de grande importância. A princesa substituiu o imperador durante três viagens que ele fez ao exterior. Tornou-se assim a única brasileira a administrar o país, e foi exatamente durante o sus governo que as principais leis do combate a escravidão foram promulgadas. (SHUMAHER e VITAL BRAZIL, 2000, p. 472)

Os barões de café assim, passaram a incentivar a vinda de imigrantes para o Brasil, pois com o fim da escravidão não restava alternativa senão o trabalho remunerado. Como falamos na introdução desse trabalho, o século XIX sofreu grandes transformações, a Republica foi nascendo aos poucos juntos com todas as transformações ocorridas neste século. A produção do café caiu devido ao uso excessivo do solo, e a monarquia já não beneficiava mais a classe dominante. Dessa forma através de um golpe político militar em 15 de novembro de 1889 a republica e implantada, o chamado governo provisório foi depositado nas mãos do Marechal Deodoro da Fonseca através de eleições indiretas feitas pelos membros do Congresso Nacional.


As mulheres foram lentamente caminhando rumo à liberdade, e a elite sempre usando discursos para convencer que a submissão ao marido era a melhor escolha, assim ela teria a aprovação da sociedade e seriam vistas como a virgem - Maria, mães dedicadas e esposas perfeitas.
Decreta-se simplesmente o estado de tutela e de inferioridade da mulher, a sua incompatibilidade para qualquer ato civil ou político do qual surgem todas as disposições de governo e de existência da sociedade; nega-se-lhe toda a instrução superior; chega-se, no desvario de um sistema absurdo, delimitar-se-lhe o círculo e gênero de ocupações e, depois de tamanho insulto à lógica e da mais clamorosa injustiça, prosternam-se os homens a seus pés, e em arroubos de imaginação desengonçada e pervertida, cantam-lhe as excelentes virtudes, as miríficas prendas e o não menos invencível influxo. Que fementidos e que estultos são todos!” (CONCEIÇÃO, 1890, p. 2)

Mas esse método não funcionou, pois as mulheres queriam seu espaço na sociedade e lutaram para consegui-lo. Elas pelejaram em favor próprio, escreveram artigos literários, fundaram jornais, invadiram um espaço que até então era considerado um espaço masculino e saíram da pobreza intelectual que a sociedade destinou á elas. Graças à luta infatigável elas conseguiram alcançar os objetivos que buscavam, a cada dia uma conquista, a cada tempo uma vitória. Na metade do século XIX começa a surgir jornais totalmente voltados para o publico feminino e escrito por mulheres. Esses jornais ajudaram bastante na caminhada pela igualdade que a mulher buscava há muito tempo. Através do jornal, as mulheres eram incentivadas a romper o espaço restrito do lar ( serviços domésticos) determinado pelos homens e mostrar que eram capazes de praticar as mesmas atividades exercidas por eles, e também mostrar para aquelas mulheres que não buscavam mudança os benefícios que a igualdade e liberdade poderia trazer.
O Jornal das Senhoras foi um dos primeiros a ser publicado e tratava de assuntos como moda, teatro, literatura e críticas em relação à cultura e sociedade. Foi fundado em 1852 pela filha de Diogo Soares da Silva Bivar (pioneiro em publicação independente no Brasil), V. A. Ximenes de Bivar e Velasco que também é considerada pioneira, é conhecida como a primeira diretora de imprensa brasileira. O Belo Sexo também era escrito por mulheres, mas não durou muito tempo, pois ao contrário do Jornal das Senhoras publicavam artigos notórios. Muitos jornais foram surgindo ao longo do tempo e a discussão entre a igualdade de sexo foi crescendo ainda mais. E se o preconceito ainda existe hoje, podemos imaginar o que essas mulheres suportaram na época. Julia Lopes de Almeida, apesar de ter tido uma longa carreira como escritora encontrou dificuldades para ser aceita como jornalista, mas perseverando ela conseguiu prestigio e escreveu por muitos anos para o jornal O Paiz que tratava de assuntos relacionados à cidade e também a educação da mulher. No jornal Sexo Feminino que defendia a intelectualidade da mulher, chegou a firmar que a mulher teria mais capacidade de aprendizado do que o homem devido à paciência que elas possuíam.
Além dos jornais, surgiram também às revistas femininas que eram literaturas dedicadas às mulheres brasileiras, A Mensageira, por exemplo, tratava de assuntos como a independência da mulher, os benefícios dessa independência e também artigos comparando o pensamento das mulheres de acordo com as épocas. Essas revistas e jornais contribuíram para uma modificação na consciência feminina, a mulher adquiriu uma nova identidade, deixando de ficar as margens da sociedade para serem o centro.
As escolas com ensinos específicos só começaram a surgir após a reforma pombalina que expulsou os jesuítas eliminando todas as escolas lideradas por eles, pois estas aplicavam um ensino muito básico e enriquecido com uma grade escolar voltada para a formação sacerdotal. O Marquês de Pombal queria implantar no Brasil o mesmo sistema usado na Inglaterra, no inicio ele não teve muito sucesso, pois as aulas eram isoladas e ensinadas por apenas um professor que na maioria das vezes era leigo e despreparado. Assim foram surgindo lentamente escolas para atenderem as necessidades da sociedade, meninas estudavam em escolas para meninas e tinham aulas ministradas por mulheres, e seguindo o mesmo padrão, meninos estudavam apenas com meninos e tinham aulas ministradas por homens. No caso dos professores, eles tinham que ser pessoas de boa índole e de famílias moralmente inatacáveis. O ensino era extremamente precário na área em que mais tinham necessidade, aprendiam a ler, escrever, contar e também a doutrina cristã. Depois de pouco tempo, foram introduzidas nos estudos outras matérias como geometria, que era exclusiva para os meninos e bordado e costura para as meninas.
Dessa forma a sociedade contribuía para o aumento do preconceito, pois na pedagogia, por exemplo, apesar de não existir leis para definir valores de salários entre homens ou mulheres, os homens tinham uma maior remuneração devido a sua formação que era mais completa. Com o tempo a figura da mulher mãe educadora se associa ao magistério e o transforma em um trabalho de mulher. O magistério passou a ser visto como uma continuidade da maternidade, ou seja, a mulher já nasceu para ser mãe, aliás, era para ser a única função da mulher no mundo se caso elas não lutassem contra esse preconceito. Vemos então que as mulheres vão conseguindo suas conquistas, mas não conseguem extinguir o preconceito. Nesse período elas conseguiram o direito de serem educadas e até mesmo o direito de trabalhar fora de casa, porém, vemos que o preconceito ainda permanece vivo mesmo dentro dessa conquista, afinal, as mulheres podiam trabalhar como professoras, uma profissão que era vista como uma continuidade do trabalho do lar, a educação dos filhos, e como professoras estas mulheres trabalhavam apenas meio expediente, o que a deixava livre na outra parte do dia para cumprirem suas tarefas domesticas. Com isso surgia mais um argumento para justificar a causa da mulher ter um salário reduzido.
“Quanto mais vejo a Alemanha, mais estimo a maneira de viver de seus habitantes, mais os seus hábitos me interessam e mais eu compreendo que é entre este povo que me conviria viver “. (Câmara, 1997, p. 119)
O Colégio Augusto, fundado por Nísia Floresta em 1838 no Rio de Janeiro, possuía um ensino extremamente voltado para a educação das meninas, incluía aulas de línguas estrangeiras tais como francês, inglês e italiano, estudando não apenas a linguagem, mas também a geografia e a história de cada país, Nísia ignorava o uso de espartilhos e incentivava as meninas a praticar atividades físicas. O Colégio Augusto fugia aos padrões da época devido ao ensino não seguir o conservadorismo que os setores da sociedade exigiam. Dessa forma Nísia recebeu dura criticas e até mesmo calúnias sobre sua honra, chegaram a publicar na imprensa que ela trocava de nomes porque havia abandonado e traído o marido e que usava pseudônimos para causar a impressão de que existiam muitas mulheres espalhadas pelo Brasil lutando pela causa feminina. As poucas professoras do século XIX eram mulheres que tinham boas condições financeiras e que tiveram a oportunidade de estudarem no exterior e possuir uma boa formação, como foi o caso de algumas mulheres citadas acima.
O abandono da educação nas províncias brasileiras, denunciados desde o inicio do Império, vincula-se na opinião de muitos, a falta de mestres e mestras com boa formação [...] em meados do século XIX, algumas medidas forma tomadas em resposta a tais reclamos e, em algumas cidades do país, logo começaram a ser criadas as primeiras escolas normais para a formação de docentes. Tais instituições foram criadas para ambos os sexos, embora o regulamento estabelecesse que as moças e rapazes devessem estudar em classes separadas, preferentemente em turnos ou ate escolas diferente. ( PRIORE, 2004, p. 229)

O ingresso da mulher brasileira nas universidades acontece também no século XIX, por volta de 1879, esse acontecimento tardio aconteceu após o imperador D. Pedro II assinar uma lei que permitia a entrada das mulheres brasileiras no ensino superior. Vale lembrar que o mérito dessa conquista não deve ser dado somente ao imperador, mas á uma mulher chamada Augusta Generosa Estrela, ela ganhou uma bolsa do próprio imperador para estudar medicina em Nova York, Augusta concluiu a faculdade, e voltou para o Brasil, disposta a exercer a profissão, porem não conseguiu. Devido ao preconceito ela foi barrada e só após esse acontecimento o imperador aprovou a lei autorizando o ingresso das mulheres nas universidades. A pioneira no Brasil foi diplomada também em medicina em 1887 em uma universidade da Bahia. A média de mulheres nessa época a ingressar no ensino superior
era muito baixa, de acordo com o artigo feito pela escritora Delcele de Queiroz, até o inicio do século XX apenas “0,24% das mulheres brasileiras ocupavam lugares na área de Ensino Jurídico, 3,63 em Ensino Médico e Farmacêutico e 0,47 em Ensino Politécnico”. O numero de mulheres nas universidades foi ficando mais freqüente com o passar do tempo, mas as profissões escolhidas geralmente eram dirigidas para as áreas consideradas femininas como enfermagem, artes e o magistério. É provável que a família da moça opinasse nessas escolhas consideradas “carreiras femininas”, mas atualmente podemos ver que tudo isso mudou.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todo esforço que as mulheres do século XIX tiveram não foram em vão, elas apenas deram um primeiro passo rumo à liberdade, abrindo as portas para o mercado de trabalho, para a formação no ensino superior, para a igualdade dos sexos, e muitas outras conquistas que se deram ao longo dos anos. Suas conquistas não cessaram no século XIX, mas se estenderam por séculos e séculos até os dias atuais. Rachel de Queiroz é um exemplo, que no século XX apesar de não ser considerada feminista, foi à primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras graças a sua competência e inteligência, ela é considerada uma das maiores escritoras brasileiras e ganhou muitos prêmios como escritora e também jornalista. Outra mulher que nos mostra essa continuidade é Esther de Figueiredo Ferraz, formada pela Faculdade de Direito das USP no ano de 1945, ela é considerada a primeira mulher a se especializar na área criminal, um espaço que era predominado pelos homens.
Em 1932 as mulheres conseguiram o direito ao voto, porem somente as viúvas, solteiras com renda própria e casada com autorização do marido poderia votar, este só passou a ser obrigatório no ano de 1946 graças ao movimento ”voto de saias” que visava autorizar o voto feminino. Mesmo tendo o direito de cursar o ensino superior por lei, durante algum tempo as mulheres que optavam por essa escolha não era bem vista pela classe dominante. Mas com vontade e persistência elas conseguiram fazer com que a sociedade entendesse essa evolução.
Sozinhas pelas ruas com as mãos na direção de seu auto; sozinha no passeio e no dancing da moda. É a moça de hoje que já não precisa da mamãe vigilante, nem a senhora de companhia[...] como os cabelos, como os vestidos, como o rosto, a moça de hoje já fixou o espírito, fê-lo mais livre[...] fê-lo apto e forte[...] nas repartições publicas, no balcão, nas fabricas ou nas grandes casas, ela sabe esta sozinha pela vida[...] sozinha: para as mãos, já não faz falta o embrulhinho cúmplice e dissimulador. Já sabe o que fazer com as mãos, que são igualmente adestradas para empunhar a direção de um auto ou para mover-se sobre o teclado de uma maquina de escrever. (NOVAES, 1998, p. 369)

Após a primeira conquista ainda no século XIX, em relação à educação, as mulheres brasileiras não pararam mais. Aos poucos elas foram conquistando um espaço maior na sociedade, novas profissões foram fazendo parte do mundo feminino.
Como podemos ver nesse trabalho, a história da mulher foi sempre sendo escondida e guardada ao silencio de cada época, algumas encontradas e publicadas e outras que não tiveram a mesma sorte ficando presas no passado. A mulher teve que construir a sua história pouco a pouco, teve que lutar para conseguir qualquer coisa que quisesse. Podemos dizer que toda a história da mulher foi estabelecida através das lutas que elas enfrentaram para alcançar seus objetivos. Até mesmo a educação que atualmente é um direito básico de todos, eram as mulheres destituídas, porém conseguiram esse direito através de muitas lutas, esforço e persistência.
Infelizmente não podemos falar desse preconceito como um fato que aconteceu há muito tempo atrás, pois ele ainda existe e estar ao nosso redor o tempo inteiro. Talvez esse preconceito passe despercebido, pois estamos tão acostumados com as brincadeiras, às piadas que não conseguimos distinguir uma coisa da outra. De acordo com dados do IBGE, feitos em janeiro de 2008, analisando Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, as mulheres com nível superior completo possuem um rendimento médio de apenas 60% do valor do rendimento médio dos homens. O rendimento das mulheres foi de R$: 2.291,80 enquanto os dos homens foram de R$: 3.841,40. Isso nos mostra o quanto existe discrepâncias salariais entre mulheres e homens.
As mulheres atualmente ainda precisam negociar um espaço dentro da sociedade, estamos certos de que muita coisa mudou, pois nesses longos anos de lutas femininas, muitas vitórias foram conquistadas: educação, trabalho, divórcio, uma jornada de trabalho mais curta, licença maternidade, voto, porem, as mulheres continuam quebrando barreiras todos os dias. Ainda é estranho para algumas pessoas verem mulheres como motoristas de táxis e ônibus, não é qualquer pessoa que confia em deixar o carro nas mãos de uma mecânica, e viajar a bordo de um avião onde o piloto é uma mulher. Enfim, apesar das mulheres terem conquistado seu espaço, ainda sofrem preconceitos.
Com isso a imagem da mulher acaba sendo desvalorizada, a sociedade cria um modelo de mulher 100% perfeita onde a beleza está acima de tudo, onde não importa ser inteligente e sim bonita, ter um corpo torneado e ter curvas sinuosas. Algumas mulheres acabaram distorcendo os “direitos iguais” que as mulheres antigamente buscavam, lutavam por melhores condições de vida, elas procuravam à igualdade em relação à educação e trabalho que eram diferenciados para homens e mulheres. Bem diferente de algumas mulheres atuais que se dizem modernas e se perdem em sua própria história, algumas buscando a juventude eterna e desfalecendo através de dietas e cirurgias. A imagem da mulher sofrida, lutadora e persistente foi deixada para trás, esquecidas no tempo, enquanto nasce à mulher como símbolo do consumismo e da sexualidade.
È possível ver essa imagem como maioria, mas não como um todo, como falado acima as mulheres continuam sua busca incansável pelo fim do preconceito, pela abolição desse prejuízo sofrido durante séculos e séculos.

BIBLIOGRAFIA

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BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo/ Volume Unico. Ed. Nova fronteira, 1949.

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CONCEIÇÃO, Maria da. Reflexões Sobre A Mulher: A Família. Rio De Janeiro, 1890.

FLORESTA, Nísia. “A Mulher” Cintilações de uma Alma Brasileira. Florianópolis: Editora Mulheres, 1997.

–––– Opúsculo Humanitário/ Com Estudo Introdutório e Comentários de Peggy Sharpe-Valadares. São Paulo, ed. Atual, 1989.
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HOLANDA, Sergio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira – A Época Colonial, Administração E Economia/ volume 2. . ed. Difusão européia do livro, 1984

HOLANDA, Sergio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira – o Brasil monárquico – o processo de emancipação/ volume 3. . ed. Difusão européia do livro, 1984

KROM. Marilene. Família e Mitos. Prevenção e Terapia: Resgatando Histórias. São Paulo, ed. Sammus Editorial, 2000

LEITE, Mirian Moreira. A Condição Feminina No Rio De Janeiro Século XIX. São Paulo – Brasília Ed. Hucitec, 1984.

NOVAIS, Fernando A. história da vida privada no Brasil – Republica: Da Belle Époque A Era Do Radio/ Volume 03. São Paulo. Ed. Companhia das letras, 1998

PRIORE, Mary Del.(org) História das Mulheres no Brasil. Ed. Contexto – 2004

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (org). Dicionário Mulheres Do Brasil De 1500 até a Atualidade. Organizado por JORGE ZAHAR EDITOR – 2ª edição – 2000.

Artigos Científicos:

COSTA, Ana Alice Alcântara. Dinamica de uma intervenção politica. Artigo disponível em http://www.abep.nep.unicamp.br acesso em 10/06/2009.


GALIZA, Danuza Ferreira de. Mulher, o feminino através dos tempos. Artigo disponível em http://www.webatrigos.com acesso em 23/08/2009.


QUEIROZ, Delcele M. Ações afirmativas na universidade brasileiras e acesso de mulheres negras. Artigo disponível em:
http://docs.google.com/gview?a=v&q=cache:nxfUIaam3HcJ:www.prodema.ufpb.br/revistaartemis/numero8/artigos/artigo Acesso em 23/08/2009


UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
INSTITUTO DE HUMANIDADES
LICENCIATURA EM HISTÓRIA

APÓSTOLO PAULO:
DE PERSEGUIDOR A PERSEGUIDO PROPAGOU O CRISTIANISMO

ANA FLÁVIA S.S. MARQUES

CABO FRIO
2009

Monografia apresentada como requisito para conclusão de curso de Licenciatura em História da Universidade Veiga de Almeida.



Profº. Fábio Afonso Frizzo de Moraes Lima (orientador)


Ao meu grande Deus primeiramente, ao meu professor orientador Fábio Frizzo, pelos conselhos sempre úteis e preciosos com que, sabiamente, conduziu este trabalho.


A minha família em especial, aos meus mestres, aos meus amigos e a todos os que colaboraram direta ou indiretamente para que este trabalho fosse realizado, principalmente aos mártires do cristianismo.
Sumário
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I (A ESTRUTURA DO IMPÉRIO ROMANO ANTES DE PAULO)
1.1 Origem de Roma
1.2 Religião e Costumes em Roma
1.3 Fases do Império Romano
CAPÍTULO II (BIOGRAFIA DO APÓSTOLO PAULO)
2.1 Antes da Conversão
2.2 Sua Conversão
3.3 Sua Prisão e martírio
CAPÍTULO III (O CRISTIANISMO APÓS A AÇÃO DE PAULO)
3.1 Relação entre Cristianismo e Império Romano
3.2 Início das Perseguições
3.3 Influências do Cristianismo no Império

CONSIDERAÇÕES FINAIS
ANEXO
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Introdução
Na era da Igreja primitiva o mundo, sob o poder de Roma, estava dominado por inúmeras perseguições contra essa religião emergente, que já contava com um bom número de fiéis. Durante todo esse processo de captura aos adeptos do cristianismo, várias pessoas receberam autoridade para perseguir e exterminar os cristãos (assim chamados, pois eram seguidores de Cristo) de toda a parte do império. Essa fase da história é denominada por alguns historiadores como Era da Igreja Perseguida ou Era sombria da Igreja.
Nesse contexto surge a pessoa de Paulo, cuja fonte que se tem de sua mudança radical é o livro de Atos dos Apóstolos, um tratado do Apóstolo São Lucas ao seu querido amigo Teófilo. Paulo era de origem israelita circuncidado da tribo de Benjamim, falava a língua aramaica em sua casa, porém com cidadania romana. Conquistara esta cidadania supostamente pelos serviços prestados ao império. Era herdeiro da tradição do farisaísmo, estrito observador das exigências da Tora e mais avançado no judaísmo do que seus contemporâneos. Era o primeiro e o mais proeminente entre os judeus (Fp 3.5,6; Gl 1.14).
Mesmo diante de todas essas benesses, era um dos judeus da dispersão nascido em Tarso da Cilícia. Em sua infância viveu no meio da cultura grega, um lugar de educação e comércio. Em sua adolescência foi para Jerusalém para ser educado por Gamaliel, filho de Simão e neto do famoso rabino Hilel. Ocupava uma importante posição no conselho judaico e era muito respeitado (At 5.34-40); foi o primeiro a adquirir o título de raban (nosso mestre) ao invés de rabi (meu mestre). Paulo foi criado aos pés desse homem (At 22.3), refletindo a tradição farisaica de seu mestre.
Paulo participou do apedrejamento de Estevão (um dos sete diáconos e primeiro martim do cristianismo) e, logo a seguir, fez-se chefe da terrível e obstinada perseguição contra os discípulos de Cristo, prendendo e açoitando homens e mulheres. Jerusalém dissolveu-se nessa ocasião, e seus membros dispersaram-se por vários lugares como Damasco e Antioquia da Síria e, aonde chegavam, anunciavam a Jesus Cristo e organizavam igrejas favorecendo a propagação do evangelho.
Em toda a história do Cristianismo, nenhuma conversão a Cristo trouxe resultados tão importantes e fecundos para todo o mundo como a conversão de Saulo, o perseguidor, e, mais tarde, o Apóstolo Paulo, o perseguido.
Tudo mudou em sua vida quando ele embarcara numa expedição a Damasco (cerca de 50 d.C.) para exterminar os cristãos que ali se encontravam. Conta-nos Lucas que numa certa altura do caminho ele foi surpreendido por um clarão no céu que se direciona a ele, e a partir dali a sua vida foi completamente transformada. Aquele que pertencia ao farisaísmo adota agora o cristianismo como sua mais nova religião. Caso semelhante ao de Constantino em 310 d.C. Em sua carta aos Gálatas, Paulo referiu-se ao seu modo de vida anterior no judaísmo, e como “sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava” (Gl 1.13). Ele estava convicto de duas coisas: tinha visto Jesus Cristo ressuscitado e sua vida foi subitamente transformada. As bases para argumentação estão nos escritos de Lucas em Atos dos Apóstolos, assim como em várias notas de suas epístolas.
A evidência da mudança desse homem que outrora perseguia e agora amara e defendia o evangelho está nas suas mensagem nas sinagogas de Damasco, um lugar em que ele, supostamente pretendia prender os discípulos de Cristo.
A partir desse momento este trabalho começa a ser desenvolvido, pois mostra o contraste daquele que tanto perseguia os cristãos que agora se tornara um deles e o maior difusor dessa nova religião passando a ser conhecido como o apóstolo dos Gentios.
Começa então um novo episódio da história do cristianismo onde Paulo, através de seus escritos e de suas quatro viagens missionárias que levaram o evangelho a algumas províncias da Ásia Menor, Europa, Éfeso e Roma (onde foi preso), começa a dar estrutura a essa nova religião fortalecendo a fé de seus adeptos por intermédio de suas epístolas. Estas tinham todo o seu caráter baseado nos ensinamentos de Jesus Cristo, que pregava uma religião que aceitasse a todos sem distinção de cor, condição financeira, sexo e raça para salvá-los da morte.
A morte de Paulo se dá no período da primeira perseguição imperial (65-68d.C.) liderada por Nero, que supostamente ateou fogo na cidade de Roma, devastando um terço dela. A culpa de tal barbaridade caiu sobre os cristãos e serviu como pretexto para o inicio de uma terrível perseguição onde milhares de cristãos foram torturados e mortos, entre eles o Apóstolo Pedro, que foi crucificado em (67 d.C.), o Apóstolo Paulo que foi decapitado no ano seguinte e vários cristãos foram queimados vivos e alguns lançados nas arenas para serem devorados pelas feras. Enquanto o imperador se divertia com tais barbaridades.
Com o passar dos anos os ensinamentos de Paulo influenciaram o Império Romano e foram colocados em prática durante o governo de Constantino. Muitas foram as mudanças realizadas que refletem até os dias de hoje.

Capítulo I
ESTRUTURA DO IMPÉRIO ROMANO ANTES DE PAULO
1.1 Origem de Roma
Sete pequenas colinas foram erguidas nas margens do rio Tibre. Os latinos mandaram povoar as colinas, pois tinham o objetivo de defender-se dos etruscos e a utilizar o rio como via de acesso ao mar. Mais tarde, não obstante a resistência dos latinos e dos sabinos, os etruscos também conseguiram ocupar uma parte do território das sete colinas. Depois de um grande período de guerra, os colonos dos três povos se uniram e formaram uma só cidade e chamaram de Roma.
Existe também a origem lendária desta cidade. Segundo os registros do escritor Virgílio, em seu livro Eneida, o grande império romano nasceu da seguinte maneira: Enéias, príncipe de Tróia, vendo que a cidade estava sendo destruída pelos gregos fugiu e passou a perambular pelo mundo e acabou se casando com a filha de um rei. Um de seus filhos, Numitor, foi morto pelo próprio irmão Amúlio, e para assegurar que o trono não teria mais herdeiros ordenou que a filha de Numitor abandonasse seus filhos gêmeos, Rômulo e Remo, jogando-os no rio. Foram então encontrados por uma loba que os amamentou até que foram encontrados por um pastor Fáustolo, que os criou até que cresceram e mataram Amúlio e restauraram o trono, fundando uma cidade em 753 a.C. que passou a ser chamada de Roma.
No final do quarto século antes de Cristo, no mesmo período em que os gregos e os persas lutavam pelo domínio das terras do Mediterrâneo Oriental, ao tempo em que Alexandre concentrava todas as energias do helenismo e depois as distribuía pelo mundo conhecido, iniciando uma nova e exuberante fase da história humana, começou-se a falar de uma cidade situada na península itálica denominada de Roma.
Com a morte de Alexandre e a expansão do helenismo, Roma começou a projetar-se, e passaria a deixar de ser uma cidade para ser A Cidade, que se tornaria um imenso império, comportando cerca de vinte povos e cinqüenta províncias em um só lugar. Essa era a Roma, herdeira dos impérios dominantes do mundo antigo.
A história de Roma divide-se em três grandes fases: Monarquia (753 - 509.C.), República (509 - 27 a.C), Império (27 a.C - 476 d.C).
A Monarquia foi marcada pelo governo de sete reis como Rômulo, que foi o primeiro, Pompílio, Túlio Hostílio, Anco Márcio, Tarquínio Prisco (Tarquínio, o Antigo) Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo. Com este último rei se finda o período da realeza e inicia-se o da república em 509 a.C.
No tempo dos reis a cidade de Roma possuía uma organização social política compreendida em quatro classes: patrícios; clientes; plebeus e escravos. Os patrícios eram os descendentes dos três povos que deram origem a esta cidade e compunham a classe dotada de privilégios. Os clientes eram os descendentes dos imigrantes e antigos habitantes das cidades. Os plebeus formavam a classe menos privilegiada, a multidão como significa esse termo. Era formada por pessoas que haviam sido levadas cativas para Roma, como conseqüência de suas inúmeras conquistas, e também daqueles que vinham voluntariamente para trabalhar ou até mesmo morar. Os escravos eram os componentes da última classe, sem garantia, restando apenas à mão-de-obra em trabalhos pesados.
Em questão política, o maior poder estava nas mãos do rei, que também era chefe do culto religioso, comandante do exército e juiz. O senado era um conselho composto por um grupo de anciãos que tinham poderes de eleger o rei e de julgar questões sobre penas de morte.
Durante a república houve grandes avanços e conquistas, o comércio se desenvolveu de maneira grandiosa, onde a riqueza monetária estava nas mãos dos cavaleiros. Enquanto uma parcela da população romana adquiria riquezas, outras eram menos favorecidas e sofriam com o desequilíbrio da distribuição de oportunidades. Com isso a classe média desapareceu, ficando somente a dos ricos e pobres e desfavorecidos.
O Império Romano está num paralelo com a história do povo judeu aproximadamente a partir do ano de 161 a.C. Numa revolta contra os sírios liderada por Judas Macabeu, filho de Matatias, os judeus alcançaram sua independência, ele tirou a idolatria de sua nação e passou a ser seu governador, levando sempre uma aliança defensiva com o senado romano, como pode ser visto a seguir:

[...] ele morreu logo depois e foi enterrado em Modim. Todo o povo lamentou-o com sensível pena, no ano cento e quarenta e seis; Judas seu filho, cognominado Macabeu, tomou em seu lugar a direção dos interesses do povo. Seus irmãos secundaram-no generosamente e ele expulsou os inimigos, matou todos os falsos judeus, que tinham violado as leis de seus pais, e purificou a província de todas as abominações que nela se haviam cometido (Josefo, livro XII, capítulo 09, p. 289).

Em 63 a.C. Pompeu tomou Jerusalém. A partir daí os judeus estiveram sob domínio romano, mas Hircano, um descendente de Judas Macabeu, exercia uma soberania nominal. Mesmo quando o filho de Antipáter, que era ministro de Hircano, assumiu o trono passando a ser chamado de Herodes, o Grande, tomou o posto de rei em favor de Antonio em 40 a.C. passando a ser César Augusto. Mesmo assim os judeus pagavam tributos a Roma.
No Ano 6 de nossa era Herodes, o Grande, mudou o seu testamento e nomeou a Arquelau como seu sucessor em lugar de Antípas. Tal atitude agradou o povo que recepcionou muito bem o novo rei:

Herodes mudou imediatamente o seu testamento. Em lugar do precedente, em que tinha nomeado Antípas, seu sucessor, contentou-se neste em nomeá-lo, tetrarca da Galiléia e da Peréia; deu o reino a Arquelau. Ele sobreviveu a Antipatro, apenas cinco dias e morreu [...] Depois que o novo rei celebrou, segundo o costume do país, o luto de seu pai, deu um banquete ao povo e subiu ao templo. Clamava-se viva o rei, por toda parte por onde ele passava e depois que ele se sentou sobre o trono de ouro, os clamores aumentaram, com votos pela prosperidade de seu reinado (Josefo, livro X, capítulo 10, p. 405).

Um de seus primeiros feitos foi tomar a Judéia, tornando-a uma dependência da Síria, passando a ser governada por um procurador de Roma que residia em Cesaréia. Os territórios vizinhos como a Galiléia passaram a ser dominados pelos filhos de Herodes e outros príncipes.
Algumas cidades como Tarso, Atenas, Éfeso, etc. possuíam uma política livre e eram governadas por magistrados e neutra de ocupações por uma tropa romana. Outras cidades como Corinto, Trôade, Filipos... tinham o nome de colônias, que eram certas comunidades de cidadãos romanos que tinham sido mudadas, como tropa da cidade imperial, para uma terra estrangeira. As províncias tinham a obrigação de pagar altos impostos para benefício de Roma e seus cidadãos. Os tributos eram cobrados em cima da renda. Os cobradores desses tributos eram denominados de publicanos, eram homens de grande importância no governo. Algumas pessoas como os galileus se submetiam aos cobradores de tributo com o maior ódio, chegando ao ponto de acharem ilegítimo o pagamento do tributo, como aconteceu com Cristo quando foi interrogado:

Dize-nos, pois, que te parece: é licito pagar imposto a César, ou não: Jesus, porém, percebendo a sua malícia disse: Hipócritas! Porque me pondes à prova? Mostrai-me a moeda do imposto. Apresentaram-lhe um denário. Disse ele: De quem é essa imagem e a inscrição? Responderam-lhe: de César. Então lhes disse: Devolvei, pois, o que é de César a César, e a Deus o que é de Deus (Mateus capítulos 22 versículo 17 ao 21).

Existiam alguns publicanos de sua própria nação que eram tão repudiados a ponto de serem tratados como pagãos e graves pecadores, assim como aqueles que citam textos do novo testamento, que eram considerados como traidores (Mateus capítulo 9 versículo 11; Lucas capitulo 19 versículo 7).

1.2 Religião e Costumes em Roma

Todos os setores e instituições da sociedade romana estavam ligados de forma direta à questão religiosa. Como já fora apresentado anteriormente, o rei ou imperador era o representante geral da religião nesta cidade e por isso os cultos eram realizados com a participação oficial dos governantes e das autoridades religiosas e o mesmo era comumente adorado como nos afirma. A adoração ao imperador era considerada prova de lealdade. Nos lugares mais visíveis de cada cidade, havia uma estatua do imperador reinante. A essa imagem, era oferecido incenso, como se oferecia aos deuses (Hurblbut, 2007, p.61).
Os sacerdotes eram eleitos e podiam ao mesmo tempo exercer outras funções, como liderar cruzadas, realizar comícios, exercer funções civis... Havia uma coisa muito interessante na realização dos cultos que era a questão de que as pessoas, tanto em casa como em público tinham o costume de obedecer, reverenciar os manes, que eram as almas benfeitoras de seus antepassados.
No início a formação religiosa de Roma foi marcada por várias características relacionadas com as preocupações pessoais, ou seja, os deuses eram voltados para as necessidades materiais como boas colheitas, prosperidade da família e do estado como pode ser observado a seguir:

O principal objetivo das religiosidades dos romanos era garantir a cooperação e benevolência dos deuses para com os homens. O conjunto de crenças, práticas e instituições religiosas de Roma não se baseava na graça divina e sim na confiança mútua entre deuses e homens [...] a religião romana caracterizava-se por um rigoroso cumprimento de ritos e cultos aos deuses, de cujo favor dependia a saúde e a prosperidade, colheitas fartas e sucesso na guerra (Hurblbut, 2007, p.61).

Em suma Roma era politeísta, onde existiam deuses oficiais, que eram venerados publicamente, e também deuses particulares ou familiares além daqueles que representavam qualidades morais. Dentre os deuses públicos encontra-se Júpiter, deus do céu (o maior de todos), Jano, deus do passado e do futuro e Minerva, deusa da sabedoria (ambos de origem grega), Marte, deus da guerra, Vulcano, deus do fogo e Saturno deus da caça (ambos de origem etrusca), Vênus, deusa da beleza, entre muitos outros. Os três primeiros eram os principais e protetores de Roma. Existiam também os deuses do campo, como Pomona, deusa das frutas, Flora, deusa das flores, Ceres, do campo...
Entre os deuses da família ou pessoais o principal deles era Lar, deus da família, cuja alma pertencia aos antepassados, Penates, deus da prosperidade no lar. Outra coisa que era muito venerado em Roma era o colégio das Vestais, uma instituição composta por seis jovens sacerdotisas que tinham a função de proteger o fogo sagrado.
No seio da família essa questão era muito bem representada, pois era considerada uma entidade religiosa, cujo pai representava e desempenhava nela o papel de sacerdote e juiz, podendo até mesmo abandonar a sua esposa, vender os filhos, casá-los com quem quisesse.
Esses deuses não tinham um lugar específico para ser adorado, ou seja, não possuíam templos. Os cultos eram realizados pelos chefes de família ou magistrados civis, porém essas atividades eram reguladas por colégios sacerdotais. Na segunda metade do século VI a.C. os etruscos conquistaram a cidade de Roma e introduziram o culto às estatuas dos deuses, os templos, adivinhações e muitos outros artifícios religiosos. Um costume, de origem grega, foi o de convidar os deuses para o banquete sagrado, que era representado por suas estatuas e organizados em casais: Júpiter e Juno, Marte e Vênus...
Em alguns cultos foram introduzidos rituais de orgias, como o da deusa Cibele, a grande mãe, e o de Dionísio, deus do vinho, que em sua transição para Roma passou a ser chamado de Baco. Essa questão fica mais clara a seguir:
Quando os habitantes de uma cidade desejavam desenvolver o comércio ou a imigração, construíam templos aos deuses que adoravam em outros países ou cidades, afim de que os habitantes desses paises ou cidades fossem adorá-los. É por isso que nas ruínas da cidade de Pompéia, Itália, encontra-se um templo de Ísis, uma deusa egípcia. Esse templo foi edificado para fomentar o comercio de Pompéia com o Egito, fazendo os comerciantes egípcios se sentirem como em seu próprio país (Hurblbut, 2007, p.60).

Na questão das vestimentas era comum nos homens o uso de túnicas, e nos cultos a toga, que era um manto de lã muito utilizado pelos magistrados. As mulheres se vestiam da mesma maneira, sendo que depois passaram a usar a estola, uma espécie de chalé retangular e comprido, sobre o qual se colocava a pala ou manta.
Os romanos primitivos eram muito severos e conservadores dos antigos costumes, mas com o crescimento avassalador do império essa severidade se perdeu, passando a serem amantes do luxo, deixando de uma vez toda ortodoxia nesta área.

1.3 Fases do Império Romano

No ano de 42 d.C. Otávio, filho adotivo de César, recebeu a consagração do Senado e do povo romano, onde lhe foram entregues todas as magistraturas sem limites de mandato recebendo os títulos de Imperador, que lhe concedia o comando vitalício do exército, e Augusto, que o colocava num patamar de veneração semelhante ao dos deuses. A partir da aceitação desses dois títulos Roma começa a florescer como um Império.
Quando ele começou a reinar (27 a.C. - 14 d.C.) impôs um sistema de governo denominado de Monarquia Absoluta (Império), com toda a forma de organização republicana, conservando os órgãos do Estado que encontrara, reduzindo, porém o poder do Senado. Criou o Conselho dos Príncipes, para resolver questões complexas, formado por seus melhores amigos, formando o 2º Triunvirato, que expandiu-o de tal maneira como pode ser observado a seguir:

Otávio, herdeiro adotivo de César, Marco Antonio e Lédipo conseguiram que o senado os nomeasse para governar o estado, e em 42 d.C. eles destruíram as forças republicanas liderada por Bruto e Cássio. Logo depois, Otávio e Marco Antonio passaram Lédipo para um segundo plano, e começaram a se separar para a derradeira luta entre si. Novamente a decisão sobre quem deveria governar o império foi tomada na Grécia, dessa vez em uma batalha naval em Ácio, na Grécia ocidental, em 31 a.C. Otávio perseguiu os fugitivos Marco Antonio e Cleópatra até o Egito passou a fazer parte do Império Romano em 30 a.C. (Wycliffe, 2007, p. 1696).

Após a morte de Augusto, quatro imperadores o sucederam. Tibério, seu genro, que posteriormente abandonou Roma e foi viver em Capri e acabou sendo assassinado. Cláudio trouxe um grande desenvolvimento do Império, mas foi assassinado por sua quarta esposa Agripina e seu filho Nero reinou em seu lugar. Caracterizado por sua crueldade, mandou matar sua própria mãe que o fez ascender ao trono e em 64 d.C. incendiou Roma colocando toda a culpa para os cristãos, mas em seguida pediu para que um escravo o matasse devido uma invasão nas fronteiras do Império.
Após a sua morte uma guerra civil se iniciou em Roma, onde o poder estava nas mãos de Galba, chefe da guarda pretoriana de Roma e de Vitélio, general do exército da Gália, mas Tito Flávio Vespasiano o venceu.
Do ano de 69 a 96 de nossa era iniciou-se a dinastia dos Flávios, tendo como primeiro Vespasiano, sendo sucedido por seu filho Tito, aquele que tanto lutou contra os judeus, principalmente em Jerusalém. Morreu após dois anos de reinado e foi substituído por seu irmão Domiciano, conhecido por sua crueldade, contudo foi assassinado por seus próprios guardas auto denominando-se sucessor de Nero:

Domiciano, de fato, tendo exercido sua crueldade contra muitos e matado injustamente a não pequeno número de homens nobres e ilustres em Roma e, tendo punido sem motivo vastos números de homens honrados com exílio e confisco de suas propriedades, estabeleceu-se por fim como sucessor de Nero pelo seu ódio e hostilidade contra Deus (Cesaréia, 1999, p. 95).

Após sua morte começou o governo dos Antoninos, formado por cinco estadistas que ascenderam ao trono. Dentre todos eles segue-se a seguinte seqüência: Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e um sexto chamado Cômono, cujos feitos não lhe permitiram o beneficio de estadista.
Após o governo de Cômodo o império entrou em crise no século III com muita desordem, miséria e uma série de revoltas aonde chegaram a ter dois monarcas num mesmo período Septímio Severo, Antonio Bassiano, Heliogábalo e Alexandre Severo que foi assassinado em 235 d.C. após essa fase de confusão e lutas consecutivas, o império entrou numa grave desorganização, conhecida como Anarquia militar.
Todas essas lutas abalaram as estruturas do império facilitando as invasões bárbaras, mas Aureliano começou a reinar e impediu que isso acontecesse. Foi sucedido por Probo, e este por outros que foram assassinados até que Diocleciano subisse ao trono. Quando começou a reinar realizou uma reforma geral no império, dividindo-o em duas partes ocidental e oriental, fixou a capital do império em Nicomédia e em Milão, deu aos governantes de cada região o titulo de augusto, com um companheiro, e herdeiro, inferior denominado de César. Diocleciano reinou na região oriental enquanto seu amigo Maximiano reinou na Roma ocidental. Após ele Constantino começou a imperar no ocidente, enquanto Licínio reinava no oriente.
Constantino o grande adotou o cristianismo como religião, obrigando o culto cristão em toda a região do império, causando um desentendimento com Licínio que acabou sendo derrotando e a decisão de Constantino prevaleceu em 323 d.C. Em 330 fundou Constantinopla para onde foi mudada a capital do império romano.
Após a sua morte as lutas reiniciaram e o governo passou para as mãos de Constâncio e depois de Juliano, que morreu em 363 d.C. e o império foi novamente dividido e assim até que os dois impérios sofreram ataques de bárbaros, até que em 476, subjugado pelo bárbaro Odoacro, o Império Romano deixou de existir. Isso fica mais claro a seguir:

Durante algumas décadas, pouco antes de Diocleciano iniciar seu reinado, tribos bárbaras haviam invadido as fronteiras ao norte do império, especialmente na região do Danúbio. Algumas delas haviam recebido permissão para entrar no império e se estabelecer ao longo das fronteiras, onde serviriam como uma proteção contra outros bárbaros. Antes dessas tribos se tornarem perfeitamente romanizadas, uma nova onda de infiltração bárbara teve início no século IV, durante a época de Constantino. Esse fato exerceu uma grande pressão sobre o império, que começou a se desintegrar em estados semi-barbaros. Embora Roma houvesse ficado sem um governante romano depois de 476 d.C. e por esta razão costuma-se dizer que o império caiu esse ano, ele continuou a existir no oriente até 1453 d.C. tendo sua capital em Constantinopla (Wycliffe, 2007, p. 1699).

Capítulo II
BIOGRAFIA DO APÓSTOLO PAULO

2.1 Antes da Conversão

Nascido em Tarso, na Cilícia, aproximadamente no ano 10 d. C. quando estava no auge do poder o imperador César Augusto do antigo Império Romano. O seu próprio testemunho já descreve que ele era um israelita circuncidado da tribo de Benjamim, que falava a língua aramaica no meio da sua família e herdeiro da tradição do farisaísmo (um grupo separado por Judas Macabeus no século II a.C. que foram favorecidos na época do império Romano, tornando-se uma seita de piedosos membros da comunidade de Israel que visa à santidade pela observação da Torá). Quando jovem foi enviado a Jerusalém para ser instruído por Gamaliel que ocupava uma elevada posição no conselho judaico e era muito respeitado.
Tornou-se um cidadão romano, ainda que não tenhamos certeza se por herança do título de cidadão ou por serviços prestados ao governo romano. Esta cidadania lhe permitia alguns privilégios como: 1 - garantia de julgamento perante César; 2 - imunidade total dos açoites antes da condenação; 3 – imunidade em relação à crucificação.
O apóstolo Paulo é mencionado pela primeira vez em Atos dos Apóstolos, na descrição que ali se faz do apedrejamento de Estevão. Embora ele não apedrejasse, é certo que estava guardando as vestes dos que estavam praticando o ato, contudo estava liderando. Isto fica mais claro na declaração feita por São Lucas:

Dando grandes gritos, eles taparam os ouvidos e, todos precipitaram-se contra ele, empurraram-no para fora da cidade e puseram-se a apedreja-lo. As testemunhas tinham deposto suas vestes (as de Estêvão) aos pés de um jovem chamado Saulo [...] Saulo aprovava este homicídio. Naquele dia, desencadeou-se violenta perseguição contra a Igreja de Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, dispersaram-se pelas regiões da Judéia e da Samaria. (Atos dos Apóstolos capítulos 7 e 8)

Uma coisa que intriga a muitos e parece ser complexa é a questão de em uma parte da bíblia aparecer o nome de Saulo e outra o nome de Paulo, mas a explicação é clara, pois Saulo é o nome hebraico Paulo como Paulo é o nome romano de Saulo.
Ele entrou abertamente nessa obra de perseguição contra o cristianismo e, vendo que Jerusalém já não era campo suficiente para seu êxito, pois os cristãos que ali viviam estavam em prisões, escondidos ou em fuga, voltou os seus olhos para outras regiões. A sua idéia era acabar com a religião emergente. Neste sentido afirma Jessé Lyman Hurblbut:

Entre aqueles que ouviram a defesa de Estevão, e que se escolarizaram com suas palavras sinceras, mas incompatíveis com a mentalidade judaica daqueles dias, estava um jovem de Tarso, cidade da costa da Ásia Menor, chamado Paulo. Esse jovem havia sido educado sob a orientação do famoso mestre Gamaliel, sendo, além disso, conhecido e respeitado intérprete da lei judaica. Saulo participou do apedrejamento de Estevão e logo a seguir fez-se chefe de terrível e obstinada perseguição contra os discípulos de Cristo, prendendo e açoitando homens e mulheres [...] (2007, p.30).

Talvez ele fosse membro do sinédrio (supremo tribunal dos judeus em Jerusalém nos tempos do novo testamento) pela sua afirmação de que não só tinha poder de lançar na prisão, por missão daquele tribunal, mas também dava o seu voto quando matavam os cristãos:

Foi o que fiz em Jerusalém: a muitos dentre os santos eu encerrei nas prisões, recebia autorização dos chefes dos chefes dos sacerdotes; e, quando eram mortos, eu contribuía com o meu voto; muitas vezes, percorrendo todas as sinagogas, por meio de torturas quis forçá-los a blasfemar; e, no excesso do meu furor, cheguei a persegui-los até em cidades estrangeiras. (Atos dos Apóstolos capítulo 26, versículos 10 e 11).

Em suas epístolas Paulo defendeu fortemente a manutenção da lei e da ordem (fundamento do governo romano).
2.2 Sua Conversão
As narrativas de Atos dos Apóstolos como também suas cartas nos mostram sua súbita conversão ao cristianismo. Após liderar uma expedição contra os cristãos que estavam em Damasco (35 d.C.), de repente ele foi surpreendido por um clarão, uma forte luz do céu que o cega imediatamente então ele ouviu a voz de Cristo que o comissiona para este novo modo de vida. Visto que ele não era um dos doze discípulos, não tinha um chamado de Cristo, e tinha perseguido os seus seguidores, a necessidade da revelação pessoal de Cristo para Paulo parece visível. O apóstolo São Lucas nos esclarece isso com mais precisão:

Saulo, contudo, respirando ainda ameaças e morticínios contra os discípulos do Senhor, foi procurar o Sumo Sacerdote e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, encontrasse alguns adeptos do caminho homens ou mulheres, ele os trouxessem aguilhoados para Jerusalém. Caminhava e aproximava-se de Damasco, quando de repente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia “Saul, Saul, por que me persegues?”, perguntou ele. E este: “Eu sou Jesus a quem persegues”. (Atos dos Apóstolos capítulo 9 versículos 1 e 2)

Sua conversão é narrada três vezes em Atos dos Apóstolos (9.1-19; 22.3-21; 26.12-20). De qualquer modo existem dois elementos na história que são claros: 1 – Paulo estava convencido de que tinha visto Cristo ressuscitado; 2 – Sua vida foi completamente mudada daquele dia em diante e ele mesmo afirma isso:

E por derradeiro de todos, me apareceu também a mim, como a um abortivo. Por que eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apostolo, pois que persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã; antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. (Atos dos Apóstolos capítulo 8 ao 10).

A evidência de sua real e súbita mudança está nas mensagens que ele começou a pregar nas sinagogas de Damasco (lugar onde ele pretendia prender os cristãos). A conversão de Paulo pode ser explicada psicologicamente, mas são os teólogos que a explicam como uma obra da graça de Deus que ocasionou numa vocação especial, na qual ele aprendeu sobre Cristo como filho de Deus o Senhor, este se tornou o ponto principal de suas pregações.
Saulo fugiu para Jerusalém. Ali, depois de ser aceito pelos cristãos, começou a falar abertamente. Conheceu os apóstolos Pedro e Thiago, e trabalhou na Síria e na Silícia durante alguns anos exercendo a função de fabricante de tendas (Atos dos Apóstolos capítulo 18 versículos 2 e 3).
Após a sua conversão e aceitação por conta dos cristãos, o apóstolo Paulo ingressou em três grandes viagens missionárias tendo uma quarta na qual fora a Roma. Todas as três viagens começaram e terminaram na comunidade gentio-cristã de Antioquia.
A sua primeira viagem missionária teve uma grande influencia dos cristãos da Antioquia e foi uma missão para os gentios. Partiu da Antioquia (na Síria), lugar que se tornou um centro do cristianismo para os gentios, devido às perseguições realizadas por Paulo, que ocasionou na dispersão dos cristãos para este lugar. Nesta viagem Paulo contou com a presença de Barnabé e João Marcos, que foram com ele a Chipre onde já havia comunidades cristãs. Pregaram em Salamina, e foram até Pafos onde conquistaram o Procônsul Sérgio Paulo para o cristianismo. De Pafos seguira para Panfília, local de onde João Marcos regressou para Jerusalém e Paulo assumiu a liderança. Paulo e Barnabé seguiram para o norte em direção a Província da Galácia na Antioquia da Psídia. De lá suas visitas se estenderam a quatro cidades: Icônio, Listra e Derbe onde conquistou muitos discípulos. Depois de algum tempo começaram a viagem de volta onde organizaram, encorajaram os fieis e fazendo discípulos. Chegaram a Atália onde embarcaram para Antioquia da Síria e aí fizeram diante da comunidade um relatório de sua missão como relata Lucas:

Depois de terem evangelizado essa cidade e conseguido fazer um bom numero de discípulos, regressaram para Listra, Icônio e Antioquia. Confirmavam o coração dos discípulos, exortando-os a permanecerem na fé e dizendo-lhes:”É preciso passar por muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus. em cada igreja designaram anciãos e, depois de terem orado e jejuado, confiaram-nos ao Senhor em quem tinham crido. Atravessando então a Pisídia, chegaram a Panfília. após anunciarem a palavra em Perge, desceram para Atalia. De lá navegaram para Antioquia, de onde tinham sido entregues a graça de Deus para a obra que havia realizado. Ao chegarem, reuniram a igreja e puseram –se a referir tudo o que Deus tinha feito com eles, especialmente abrindo aos gentios a porta da fé. Permaneceram depois não pouco tempo com os discípulos”. (Atos dos Apóstolos capítulo 14 versículo 21 ao 28)

A Segunda Viagem Missionária de Paulo teve um propósito diferente, conforme ele mesmo afirmou era de visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor (Atos dos Apóstolos capítulo 15 versículo 16).
Nesta viagem, Paulo teve como acompanhante Silas. Viajaram por terra na estrada em sentido norte, pela Síria e Silícia e assim começaram a segunda visita a Galácia, em Derbe. Mas o centro do interesse tornou-se a Macedônia e Acaia, para onde partiram e via Neápolis para Filípos, uma cidade da Macedônia próxima ao mar Egeu, onde foi fundada uma comunidade cristã composta, em sua maioria, de gentios que mostrou grande afeição para com o Apostolo. Os magistrados da cidade mandaram prender Paulo e Silas, mas foram soltos a noite por serem cidadãos romanos. Continuaram então sua viagem por Anfípolis e Apolônia até Tessalônica, onde pregaram durante três semanas e fundaram uma comunidade cristã bem estruturada composta em sua grande maioria de gentios. Depois partiram para Bereía, uma cidade da Macedônia, cerca de 73 km ao oeste de Tessalônica, onde grande número de judeus e gentios da elite aceitaram ao cristianismo, mas diante das perseguições Paulo foi obrigado a fugir sozinho para Atenas. Neste lugar ele pregou para vários ouvintes, dentre eles filósofos epicuristas e estóicos, pensando que ele estava pregando um novo deus o convidaram para apresentar sua doutrina no Areópago, onde ele pregou sobre o deus desconhecido e alcançou o coração de alguns, dentre eles Damaris e Dionísio, contudo foram tidos como paroleiros e foram expulsos de lá como afirma Lucas:

De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos e, todos os dias, na praça, com os que se apresentavam. E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendia com ele. Uns diziam: Que quer dizer esse paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos. Porque lhes anunciava Jesus e a ressurreição [...] E assim Paulo saiu do meio deles (Atos dos Apóstolos capítulo 17 versículos 19,18 e 33).

Dali, Paulo partiu para Corinto, onde ficou hospedado durante dezoito meses, pregando nas sinagogas aos sábados. Recebendo ajuda dos cristãos de Filipos, voltou à pregação da Palavra convertendo muitos judeus e pagãos de classe baixa, conhecidos como os sem cultura. Ainda em Corinto Paulo escreveu as epístolas de I e II Tessalonicenses. Embarcou então para a Síria junto com Áquilas e Priscila. Deixou seus companheiros em Éfeso, foi para Cesaréia e voltou para Jerusalém terminando assim sua Segunda Viagem Missionária.
A terceira viagem missionária de Paulo teve como ponto de partida a Galácia, onde as comunidades cristãs viviam em paz. Chegou a Éfeso onde conheceu alguns discípulos de João Batista e pregou durante três meses na sinagoga.
Durante sua estadia em Éfeso, o apóstolo Lucas relata que o ministério de Paulo foi marcado por uma série de atividades como: expulsão de demônios, curas e a destruição de um grande número de livros de magia e o tumulto que depois de três anos ocasionou no fim de sua estadia naquela cidade, como pode ser visto a seguir
Entretanto, pelas mãos de Paulo, Deus operava milagres não comuns. Bastava, por exemplo, que sobre os enfermos se aplicassem lenços e aventais que houvessem tocado seu corpo: afastavam-se deles as doenças, e os espíritos maus saíam [...] Muitos dos que haviam abraçado a fé começaram a confessar e a declarar suas práticas. E grande número dos que havia exercido a magia traziam seus livros e os queimavam à vista de todos. Calculando-se o seu preço, acharam que seu valor chegava a cinqüenta mil peças de prata. Assim, a palavra do Senhor crescia e se firmava poderosamente. (Atos dos Apóstolos capítulo 19 versículos 11 ao 20).

O cristianismo começava a ganhar espaço em toda a Ásia fundando uma fértil comunidade cristã em Colosssos, Laodiçéia, Hierápolis, Trôade, Esmirna, Tiatira, Sardes e Filadelfia. Diante das intempéries da Igreja de Corinto, Paulo resolveu ir pessoalmente lá, mas ficou por pouco tempo regressando a Éfeso, onde escreveu a sua terceira carta aos corintios, mas esta também se perdeu como aconteceu com a segunda carta. De Éfeso viajou para Trôade, onde esperava encontrar-se com Tito, mas embarcou para Macedônia onde realmente se encontrou com Tito. Da Macedônia Paulo escreveu a epístola de II Coríntios (57 d.C.). Depois de uma visita às comunidades da Macedônia voltou para Corinto onde ficou três meses e escreveu a epístola aos romanos para preparar uma visita há muito tempo planejada a este local.
Regressando da sua terceira viajem missionária, Paulo chega a Filipos, onde se encontrou com o Apóstolo São Lucas juntando-se a ele. Em Trôade tomaram o navio para Mileto, onde viajaram até Tiro. De lá prosseguiram para Ptolomaide e daí por terra a Cesaréia terminando em Jerusalém para a Festa de Pentecostes. Embora tenha sido bem recebido por Thiago e os anciãos, alguns judeus da Ásia, presentes em Jerusalém para festa o acusaram de profanar o tempo criando um grande tumulto, resultando na sua prisão pelo capitão romano da cidade como afirma Lucas:

Quando os sete dias estavam quase terminando, os judeus da Ásia, vendo-o no templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mão dele, clamando: Varões israelitas, acudi! Este é o homem que por todas as partes ensina a todos, contra o povo, e contra a lei, e contra este lugar, e; demais disto introduziu também no tempo os gregos e profanou este santo lugar [...] E alvoroçou toda a cidade, e houve grande concurso de povo; e, pegando de Paulo, o arrastaram para fora do templo e logo as portas se fecharam. E procurando eles mata-lo, chegou ao tributo da corte o aviso de que Jerusalém estava toda em confusão. Este tomando logo consigo soldados e centuriões, correu para eles. E, quando viram o tribuno e os soldados, cessaram de ferir a Paulo. (Atos dos Apóstolos capítulo 20, versículo 27 ao 32)

2.3 Sua Prisão e martírio

Durante o período em que esteve preso, Paulo apelou para a sua cidadania romana, apelou a César para um julgamento justo, e foi julgado inocente das acusações contra ele por Festo e Agripa. Sua viajem a Roma resultou em um período de dois anos de pregações e ensinos públicos, com toda liberdade, praticamente na porta do palácio de César, onde o relato feito por São Lucas chega ao fim.
Parte de suas epístolas mostram que ele foi solto logo após sua primeira prisão e viajou a lugares como Creta, Nicópolis, Trôade, Mileto e Corinto, e depois foi preso pela segunda vez e executado.
Segundo uma tradição romana Paulo foi decapitado fora da cidade, e sepultado numa propriedade particular à beira da estrada para Óstia durante o governo de Nero.
Declarando-se publicamente como o principal inimigo de Deus, Nero conduziu sua fúria de maneira tão drástica e ateou fogo na cidade de Roma para incriminar os cristãos, e então começou uma grande caça aos apóstolos e adeptos do cristianismo. Paulo e Pedro foram vítimas dessa figura cruel como relata Eusébio de Cesaréia:

Relata-se, portanto, que Paulo foi decapitado em Roma e que Pedro foi crucificado sob seu governo. E esse relato é confirmado pelo fato de que os nomes de Pedro e Paulo ainda hoje permanecem nos cemitérios daquela cidade. (1999, p. 76).

De igual maneira, certo historiador eclesiástico de nome Caio, nascido na época que Zeferino era Bispo de Roma, em disputa com Próculo, o lider da seita frígia, apresenta a seguinte declaração com respeito aos lugares em que os tabernáculos terrenos dos mencionados apóstolos foram depositados:

“Mas posso indicar”, afirma ele, “os despojos dos apóstolos, pois se fores ao Vaticano ou à Via Ostiana encontrarás os depojos dos que lançaram os fundamentos desta Igreja. E que ambos foram martirizados na mesma época testemunha Dionísio, bispo de Corinto, em seu discurso endereçado aos romanos: ‘Assim igualmente vós, mediante esta admoestação, juntais a semente florescente plantada por Pedro e Paulo em Roma e em Corinto. Pois ambos tendo plantado a nós em Corinto, igualmente nos instruíram e, tendo de igual maneira ensinado na Itália, sofreram martírio quase na mesma época’” (Apud, Cesaréia, 1999, p. 76).

Capítulo III
O CRISTIANISMO APÓS A AÇÃO DE PAULO
3.1 Relação entre Cristianismo e Império Romano
Após a morte de Cristo, seus discípulos se dispersaram e sua doutrina se espalhou rapidamente por todo o mundo oriental chegando ao coração do império. Principalmente por intermédio do apóstolo Paulo as palavras de Cristo foram conservadas e transmitidas aos povos através dos evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) que registram os fundamentos dessa doutrina.
Nos quatro evangelhos encontramos relatos repetidos, e únicos em cada um deles, que descrevem a obra e ministério de Cristo. Tais ensinamentos foram ganhando cada vez mais espaço entre os judeus e posteriormente entre os pagãos. A partir daí o cristianismo foi tomando forma e seus seguidores passaram a ser chamados de cristãos (Atos dos Apóstolos capítulo 11 versículo 26) como também pode ser visto a seguir:
A igreja de Antioquia, também, agora florescia e abundava em membros e no grande numero de mestres vindos de Jerusalém, entre os quais estavam Barnabé e Paulo, e muitos outros irmãos com ele. O nome cristão primeiro surgiu naquele lugar, como que de um solo grato e produtivo (Cesaréia, 1999, p. 52).
Na península itálica a expansão do cristianismo continuou de forma rápida alcançando as regiões da Síria, Ásia Menor, Grécia e Macedônia. Os romanos que eram abertos a todos os seguimentos religiosos tinham pelos cristãos uma menor contemplação, pois a doutrina de Cristo vinha mudar os princípios morais que regiam a sociedade do tempo com seus costumes e leis. Os cristãos a princípio eram vistos como membros de uma nova seita oriunda do judaísmo e que Cristo era simplesmente um agitador popular, o que não provocava nenhum perigo para o império como pode ser visto a seguir:

O surgimento do cristianismo com mais uma religião no contexto do mundo antigo não comportava, de início, nada de excepcional. Numa Judéia cindida em inúmeras facções religiosas, algumas das quais caracterizadas pela atitude francamente hostil que dispensavam aos invasores romanos, os cristãos representavam mais uma corrente espiritual oriunda do judaísmo, não obstante o desprezo que os mais importantes líderes judaicos, à época, nutriam pela atuação de Jesus e de seus seguidores (Ventura, 2006, p.241).

O cristianismo, a principio era algo pequeno, composto por pessoas de classe baixa que não tinham nenhuma influencia política nem religiosa e se quer alguma ligação com o império. Em suma, não se tinha muita esperança de crescimento comparado às demais seitas de sua época como vemos se observa a seguir:

[...] o cristianismo a aparece já, por volta dos fins do século I, como uma religião citadina, dos trabalhadores mais humildes, dos escravos, dos desafortunados e, naturalmente, também de alguns elementos em crise das classes dominantes da própria aristocracia militar e social. Nos campos, entre os camponeses fieis aos velhos deuses e aos velhos ritos, com os quais se identificavam os tempos lendários do sistema comunitário primitivo, o cristianismo só conseguirá penetrar muito mais tarde [...] (Donini 1989, p. 94).

Reforçando tal idéia encontramos outra referência ao repúdio ao cristianismo, como uma simples seita entre muitas outra, por conta do império:

O governo de Roma reconhece os seguidores de Cristo como uma das muitas seitas judaicas presentes na palestina. A sua atitude em relação à pregação cristã na diáspora judaica do Mediterrâneo oriental era geralmente neutra e algumas vezes até benevolente. Mesmo sob a administração de Nero os cristãos viveram em paz na capital do império até o ano de 62. (apud Ventura, 2006, p.161).

O mesmo autor reforça mais adiante:

Quando nos debruçamos sobre o estudo das relações entre o cristianismo e o poder imperial no decorrer dos primeiros duzentos e cinqüenta anos do Império Romano, período compreendido entre o surgimento e difusão da seita e irrupção das primeiras perseguições imperiais aos seus adeptos, somos surpreendidos por um fragrante desinteresse das autoridades romanas para com os cristãos. A rigor, uma comunicação regular entre os imperadores e a Igreja só se estabelece no século II, mediante a elaboração de apologias, obras nas quais os autores cristãos se dirigem a corte com o intuito de expor os princípios da sua fé e solicitar a benevolência dos imperadores (apud Ventura, 2006, p.244).

Com o crescimento avassalador desse novo seguimento religioso, os cristãos passaram a ser visto pelos romanos como revolucionários, um fato que não acontecia com as demais crenças. Foi através disso que às perseguições começaram a acontecer. Um historiador romano verificando esse avanço tão rápido chegou a seguinte conclusão:

[...] um dos mais importantes historiadores romanos do Alto Império, por exemplo, considerava o cristianismo um flagelo pernicioso oriundo da Judéia em torno do qual se reuniam indivíduos que nutriam ódio pelo gênero humano, o que bem podia significar uma acusação de magia, razão pela qual o cristianismo representou, desde cedo, uma superstição ameaçadora para a segurança do Estado (Ventura, 2006, p.243).

Contudo, Roma contribuiu muito, tanto política, religiosa e geograficamente, para que o cristianismo alcançasse os lugares mais distantes, pois foi por meio de um imperador romano que uma nota foi emitida resultando no nascimento de Jesus em Belém, não em Nazaré. Um oficial romano preparou o processo de sua crucificação. Os imperadores romanos administravam todas as províncias alcançadas pelo evangelho. Uma das referências mais especificas a Roma encontramos a expulsão dos judeus realizada pelo imperador Cláudio (Atos dos Apóstolos capítulo 18 versículo 2) o que é confirmado pelo historiador Suetônio:

A suposta expulsão dos cristãos de Roma decretada sob o governo de Cláudio resulta, na realidade, de uma extrapolação do texto de Suetônio. De fato, em A Vida dos Doze Césares, o autor afirma que o imperador teria banido da Ubers os “judeus que se sublevaravam incessantemente sob instigação de um certo Chestos”, não sendo possível se estabelecer ao certo a que personagem Suetônio se refere nessa passagem. Sendo assim, não observamos, no conjunto da legislação do Alto Império, nenhuma evidencia de uma diretiva geral, um edito, promulgação contra os cristãos, prevalecendo o princípio segundo o qual os pronunciamentos imperiais acerca do cristianismo eram reativos, ocorrendo sempre a partir de uma consulta oficial feita a chancelaria imperial por parte do governador de província, das comunidades municipais ou particulares (apud Ventura, 2006, p.244,245).

Segundo os relatos de Lucas em Atos dos Apóstolos, os cristãos que se dispersaram na expulsão realizada por Cláudio retornaram, mas alguns ainda ficaram por lá por umas duas décadas mais tarde, quando Paulo chegou a essa cidade. A cidade de Roma aparece no Novo Testamento sempre ligada a pessoa de Paulo. Ele caminhou pela famosa via Ápia até chegar a Roma onde permaneceu em uma prisão domiciliar por cerca de dois anos, como nos relata Lucas:

Os irmãos desta cidade, tendo ouvido falar a nosso respeito, vieram ao nosso encontro até o foro de Ápio e Três Tabernas. Ao vê-los, Paulo deu graças a Deus e sentiu-se encorajado. Depois de chegarmos a Roma, foi permitido a Paulo morar em casa particular, junto com o soldado que o vigiava. (Atos dos Apóstolos, capítulo 28 versículos 15 e 16).

Estando na prisão em Roma encontramos Paulo apelando para César examinar a questão da lei judaica (Atos dos Apóstolos, capítulo 28). Durante sua primeira prisão, encontramos o apóstolo alegre com a expansão do evangelho no território romano, e de como ele evangelizou toda a guarda do palácio quando se encontrava preso.

Quero que saibais irmãos, que o que me aconteceu redundou em progresso do evangelho: as minhas prisões se tornaram conhecidas em Cristo por todo o pretório e por toda parte, e a maioria dos irmãos, encorajados no Senhor pelas minhas prisões, proclamam a palavra com mais ousadia e sem temor. É verdade que alguns anunciam o Cristo por inveja e por porfia, e outros por boa vontade: estes por amor proclamam a Cristo, sabendo que fui posto para defesa do evangelho [...] (Filipenses, capítulo 1 versículos 12 ao 16).

Analisando de uma maneira simples encontramos Paulo evangelizando o pretório, ou seja, a Guarda Pretoriana, a legião imperial favorita, cujos componentes haviam recebido a ordem de vigiá-lo durante todo o período de sua prisão. O que pode ser visto é que os ensinamentos do cristianismo começaram a ser divulgados no seio do próprio império, conquistando pessoas de destaque dentro dele.

Festo foi enviado por Nero como sucessor de Félix. Sob ele Paulo foi levado prisioneiro a Roma depois de defender sua causa. Ora Aristarco era seu acompanhante, a seu respeito diz, em alguma parte de suas epistolas, que era seu companheiro de prisão. E Lucas, que escreveu os Atos dos Apóstolos, finalizou sua narrativa depois de demonstrar que Paulo passou dois anos inteiro relativamente livre em Roma, tendo pregado a Palavra de Deus sem impedimentos. Diz-se que, depois de defender sua causa, o apostolo foi de novo enviado no ministério da pregação e que, chegando pela segunda vez à mesma cidade, teve a vida encerrada pelo martírio (Cesaréia, 1999, p. 70).

Outro autor reforça tal verdade como pode ser visto a seguir:

Favorecido pela clemência imperial, o cristianismo começa a se expandir com ímpeto cada vez maior, alcançando inclusive a elite romana. Em finais do século II, observamos a presença inquestionável de cristãos na casa imperial, pois sabemos que Márcia, a concubina de Cômodo, interferiu com sucesso em favor dos cristãos condenados a trabalhos forçados na Sardenha (Apud, Ventura, 2006, p.245).
Quando Paulo chegou a Roma, aproximadamente no ano de 60 d.C. essa cidade ainda não estava em seu apogeu, o que só aconteceu por volta do século II, contudo era uma grande cidade que dominava todo o mediterrâneo causando temor e respeito em muitas pessoas além das fronteiras imperiais. A população de Roma chegava a aproximadamente 1,500. 000 de pessoas no início do século II e, consequentemente todo o tipo de estrutura se multiplicavam para atender as crescentes necessidades do emergente império.

3.2 Início das Perseguições

Como filho e sucessor, Cláudio adotou Nero, filho do primeiro casamento da sua segunda esposa. Nero reinou muito bem (54-68 d.C.) durante os cinco anos de poder, quando ainda estavam sob domínio de sua mãe e dos chefes de departamentos executivos do governo, sendo que o principal dele era o filosofo estóico Sêneca.
Quando se tornou independente, Nero começou a entrar em contínuos conflitos com vários indivíduos e facções do governo, a partir daí, passou a se sentir temeroso em relação a conspirações contra a sua vida, com isso seu governo tomou características de uma ditadura, matando sua mãe (que o ajudou a ascender ao trono), eu irmão adotivo e sua esposa (Cesaréria, 1999, p. 76), espalhando terror por toda a parte do império.
Em uma noite de julho de 64 d.C. o incêndio em Roma teve inicio ao lado do Circo Máximo e durou cerca de nove dias, tomando conta de mais da metade da cidade e até o palácio de Nero foi atingido pelas chamas, muitos foram os esforços, mas nada pode contê-lo. O imperador fez de tudo para abater o flagelo sobre os desabrigados, mas todos tinham uma suspeita de que ele estava por de trás desse incêndio com o objetivo de ter as honras de reconstruir Roma de uma forma grandiosa.
O clímax de sal crueldade foi a de lançar culpa nos cristãos, com o intuito de desviar a culpa de sua pessoa. A partir daí teve inicio a primeira perseguição oficial, que ocorreu em aproximadamente 64 d.C. e durou até 66 d.C.
Tal fato fica mais esclarecido na seguinte afirmação:

No ano 64, uma grande parte de Roma foi destruída por um incêndio. Diz-se que foi Nero, o pior de todos os imperadores romanos, que ateou fogo à cidade. Embora a acusação ainda seja discutível, a opinião publica responsabilizou Nero pelo crime. A fim de escapar da responsabilidade, Nero apontou os cristãos como culpados do incêndio de Roma e moveu contra eles terrível perseguição [...] (Hurblbut, 2007, p.45).
A perseguição se espalhou de tal forma que Nero organizou grandes espetáculos com o intuito de aplacar a sede de vingança dos cidadãos romanos. Nesses espetáculos, os cristãos, sendo culpados pelo fato acontecido, sofriam vários tipos de torturas antes de morrer.

Milhares de cristãos foram torturados e mortos, entre os quais o apóstolo Pedro, que foi crucificado no ano 67, e bem assim o apóstolo Paulo, que foi decapitado no ano de 68. É uma das vinganças da história que naqueles jardins, onde multidões de cristãos foram queimadas o imperador passeava em sua carruagem [...] (Hurblbut, 2007, p.45).

Alguns autores afirmam não haver nenhum indício de que o objetivo do imperador era de combater a fé em Cristo (Wycliffe, 2007 p. 1698), mas de livrar de sobre si a fama de incendiário de Roma. Contudo outros afirmam o contrário como Tertuliano:

Examinai vossos registros: ali encontrareis que Nero foi o primeiro a perseguir essa doutrina, especialmente quando, depois de dominar todo o Ocidente, exerceu sua crueldade contra todos em Roma. Tal é o homem de quem nos orgulhamos ter sido o líder de nossa punição, pois aquele que sabe quem ele era talvez também saiba que nada que não fosse o grande e bom seria condenado por Nero (Cesaréia, 1999, p. 76).

André Leonardo Chevirarese reforça tal idéia na seguinte afirmação:

Neste caso, parece existir uma concordância entre Suetônio e os autores cristãos sobre as razões que levaram Nero a perseguir os cristãos: elas seriam de um tipo geral e podiam ser aplicadas em todas as partes do Império, mas do que apenas na sua capital. A motivação é fundamentalmente religiosa (2006. p. 166,167)

Nero construiu palácios, conseguiu afastar importantes seguimentos da sociedade, mas não teve sucesso em alcançar o apoio dos militares que aproximadamente no ano de 68 d.C. deram inicio a uma rebelião, que culminou em sua deposição pelo senado e condenação a morte. Em vez de se entregar cometeu suicídio terminando assim a linhagem Júlio-Claudiana.
As perseguições imperiais foram em numero de dez. De um modo geral as perseguições eram locais ou regionais, até que Décio (249-251) lançou um ataque nacional, tendo a mesma idéia de Nero em buscar um culpado para o declínio geral de Roma. Roma estava em decadência e novamente os cristãos foram obrigados a assumir grande parte da culpa, pelo fato de terem se recusado a adorar os antigos deuses, que supostamente teriam ficado zangados com tal atitude, e, por esta razão, estariam castigando toda a sociedade.
Essa perseguição foi seguida por ataques cruéis contra os cristãos. Em seguida Diocleciano (303-305 d.C.) deu inicio a última e pior das perseguições. Seu objetivo era destruir completamente a Igreja, martirizar seus lideres, destruir os templos e acabar com as cópias das escrituras como pode ser observado a seguir:

[...] Ao mesmo tempo, ordenou-se que todos os templos construídos em todo o império durante meio século de aparente calma fossem destruídos. Alem disso, exigiu-se que todos renunciassem ao cristianismo e a fé. Aqueles que não fizessem, perderiam a cidadania romana e ficariam sem a proteção da leu. Em alguns lugares os cristãos eram encerrados nos templos e, depois, ateavam-lhe fogo, com todos os membros em seu interior. Conta-se que o imperador Diocleciano erigiu um monumento com esta inscrição: “Em honra ao extermínio da superstição cristã” (Hurblbut, 2007, p.66,67).

Para ele as perseguições tinham por objetivo acabar de vez com o cristianismo, mas o contrário é que estava acontecendo. Quanto mais ele perseguia, mais a nova religião ia tomando forma. Para ele os cristãos são membros de uma religião transgressora e suas perseguições não afetaram somente Roma, mas a estrutura de todo o império, pois componentes de famílias importantes de Roma haviam sido convertidos pelo cristianismo:

[...] a presença de importantes nomes de algumas das mais influentes famílias romanas aponta para a cristianização de segmentos do alto estrato social romano e verifica-se uma associação entre Tito Flávio Clemente e inertia - abstenção da atividade política. Esta característica, como será vista com o governo de Marco Aurélio, apresenta dois aspectos: a) as elites, desde o inicio da República , sempre consideraram a participação das funções publicas como um dos seus principais deveres; e b) a recusa de um membro da elite romana em participar ativamente das funções publicas colocava em risco a própria sobrevivência do sistema imperial romano (Chevirarese 2006. p. 169).

A nova religião não era mais uma das muitas seitas de origem judaica, mas uma grande religião emergente prestes a dominar todo o império. Com os antoninos o culto ao imperador é totalmente desencorajado, mas a classe dirigente está disposta a tomar parte nas diversas atividades religiosas. Contudo o cristianismo estava sendo implantado gradativamente no império como pode ser visto a seguir:

Conforme observou Sordi (1994:56) uma revolução de ordem cultural estava em curso dentro do Império romano, com o conceito de dominatio sendo amplamente utilizado no interior das suas fronteiras (apud Chevirarese 2006. p. 170).

Com o fim do governo de Marco Aurélio uma nova relação entre Igreja cristã e o Estado começou a se estabelecer. A Igreja começou a sair da margem da sociedade, passando a ser reconhecida abertamente, se não oficialmente, pelo Estado. Os cristãos, de fato, durante o governo de Cômodo, deixam de lado aquele principio excessivamente cuidadoso em não querer assumir cargos públicos, um tipo de comportamento que os caracterizou durante todo o período antonino (Chevirarese 2006. p. 173).

3.3 Influências do Cristianismo no Império

Os cristãos alienavam certas pessoas através de sua pretensão exclusiva a Cristo e ao Evangelho, sendo que a população da época não se adaptava com a afirmação de que Cristo era o caminho a verdade e a vida. Os cristãos também alienavam muitos com suas práticas anti-sociais. Pois na vida greco-romana as diversas atividades como teatro, esporte, eventos e festas públicas eram realizados em nome de alguma divindade pagã, os cristãos se ausentavam de tais aspectos da vida social, pois para eles tudo deveria ser feito em nome de Cristo.
Além disso, os cristãos não podiam prestar culto nos santuários da religião dominante e da deusa Roma (que era a personificação do Estado). Embora essa prática se mantivesse um pouco informal e até mesmo voluntária não existia tanta dificuldade assim, mas no tempo de Calígula houve uma tentativa de fazer o povo adorá-lo, mas os cristãos se recusaram. Domiciano agiu da mesma maneira, causando grandes sofrimentos a muitos. A questão do culto imperial entra em contraste com as pregações do apostolo Paulo, que afirmava que somente Cristo deveria ser cultuado (II Tessalonicences, 2.3,4). Isso se tornou algo permanente no seio do Império como pode ser observado a seguir:

Apesar do monoteísmo e da rejeição aos cultos pagãos, os cristãos não adotavam, de um modo geral, uma posição de hostilidade declarada à autoridade romana. Mesmo Tertuliano, um dos mais ferozes críticos do culto imperial, permaneceu fiel a tradição estabelecida por Paulo segundo a qual o poder do imperador era delegado por Deus, o que exigia dos cristãos obediência estrita à ordem romana (Ventura, 2006, p.243).

Uma das maiores conquistas do cristianismo deu-se logo após a abdicação de Diocleciano, no ano de 305, durante o governo do Imperador Constantino. Esse novo imperador era a favor dos cristãos, apesar de ainda não haver se confessado como tal. Semelhantemente á conversão de Paulo, Constantino afirmou ter visto no céu uma cruz luminosa com a seguinte inscrição: “In Hoc Signo Vinces”, que traduzido quer dizer: Com este sinal/ símbolo vencerás. Mais tarde ele adotou tal inscrição como símbolo de luta de seu exército se tornando o melhor imperador romano como nos afirma Eusébio de Cesaréia em História Eclesiástica:
A ele, o Deus supremo, concedeu do céu os frutos de sua devoção, os troféus da vitória sobre os maus, e aquele tirano abominável com todos os seus conselheiros e partidários, ele lançou prostrado aos pés de Constantino. Pois quando em seus movimentos agiu segundo os extremos da loucura, o imperador divinamente favorecido considerou-o não mais merecedor de ser tolerado, mas tomando medidas prudentes e entrosando os firmes princípios da justiça com sua humanidade, determinou ir proteger aqueles que foram tão miseravelmente oprimidos pelo tirano; e nisso, banindo pragas menores, avançou para salvar vastas multidões do gênero humano [...] (Cesaréia, Capítulo IX, p. 402).

Algum tempo depois Constantino promulgou em 313 d.C. o famoso Edito de Tolerância, que oficialmente colocava fim nas perseguições. Apesar de estar reinando, foi somente no ano de 323 d.C. que Constantino alcançou o cargo de supremo Imperador, com isso o cristianismo foi muito favorecido.
Com o seu governo o cristianismo gozou de muitos benefícios, dente eles o fim das perseguições, a restauração das igrejas, o fim dos sacrifícios pagãos, a dedicação de templos pagãos ao culto cristão, as doações ás igrejas, os privilégios concedidos ao clero, proclamação do domingo como dia de descanso etc. (Hurblbut, 2007, p. 88).
Da mudança de relação entre Império Romano e Igreja surgiram resultados de alcance mundial. Para o Estado essa relação trouxe bons resultados como o fim da crucificação, a repreensão do infanticídio, influencia no tratamento dos escravos entre outros. A crucificação foi abolida, pois a cruz passou a ser utilizado como emblema sagrado dos cristãos. O infanticídio foi abolido, pois era comum em Roma que qualquer criança que não tivesse o agrado do pai fosse asfixiada, abandonada ou até vendidas. Sobre o tratamento dos escravos, qualquer senhor poderia matar os escravos que possuía, mas a influencia do cristianismo tornou mais humana o tratamento dado aos escravos. Essa repentina mudança se baseava na pregação de Paulo, que pregava uma nova vida em Cristo, como pode ser observado a seguir:
Vós vos desvestistes do homem velho com as suas praticas e vos revestistes do novo, que se renova para o conhecimento segundo a imagem do seu Criador aí não há mais grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre, mas Cristo é tudo em Todos (Colossenses capítulo 3 versículos 9 ao 11).

Os cristãos sempre obedeciam as autoridades constituídas, pois essa era uma ordenança divina e que foi amplamente pregada pelo apostolo Paulo. Algum que resultou numa mobilização por parte do povo, como ele orientou aos cristãos residentes em Roma:

Todo homem se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus. De modo que aquele que se revolta contra a autoridade, opõe-se a ordem estabelecida por Deus. E os que se opõem atrairão sobre si condenação (Romanos capítulo 13 versículos 1 e 2)

Em relação à mulher, não é verificado qualquer tipo de mudança, pelo contrário, o papel de inferioridade é reforçado e mantido na sociedade. Segundo Paulo mesmo pregava sobre a moral doméstica:

As mulheres devem submeter-se aos seus maridos, como ao Senhor, porque o homem é cabeça da mulher, como Cristo é cabeça da igreja e salvador do corpo. Como a Igreja está sujeita a Cristo, estejam as mulheres em tudo sujeitas aos seus maridos (Efésios capítulo 5 versículos 22 ao 24).

Nem mesmo nas sinagogas as mulheres possuíam vez e Paulo continuou reforçando tal idéia não demonstrando mudança alguma em relação a elas como pode ser visto a seguir:
[...] estejam caladas as mulheres nas assembléias, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a Lei. Se desejarem instruir-se sobre algum ponto, interroguem os maridos em casa; não é conveniente que uma mulher fale nas assembléias (I Coríntios capítulo 14 versículos 34 e 35).

O cristianismo após a ação de Paulo teve grande importância no império. Graças as suas pregações e propagação das doutrinas cristãs, todo o mundo oriental de sua época foi alcançado por tais ensinamentos. Por intermédio de seu trabalho, baseado e inspirado em Jesus Cristo, o mundo aprendeu sobre o amor, Cristo, deveres civis... O que rompeu vários séculos e milênios, influenciando várias nações e ainda pode ser visto em nossos dias.

Considerações Finais

O mundo sob domínio do império romano teve um grande impacto com a emergência do cristianismo em seu seio. Diante de uma sociedade politeísta, cujas religiões eram antigas, herdeiras da cultura grega, as doutrinas de Cristo foram gradativamente alcançando um espaço considerável, deixando de ser vista como uma das muitas seitas oriundas do judaísmo, passando a ser uma religião que reflete até aos nossos dias.
O império romano gerou uma série de excluídos, camponeses desterrados, cidadãos romanos empobrecidos e indivíduos dependentes. Isso se tornou um solo fértil para a difusão das doutrinas de Cristo.
Como apóstolo Paulo a coisa mudou. Mesmo diante de suas muitas perseguições contra os cristãos, que visavam acabar de vez com eles, se tornou num fator que favorecia cada vez mais o crescimento do evangelho de Cristo. Quanto mais os cristãos eram perseguidos, mais eles se dispersavam, com isso aonde chegavam o evangelho era pregado e igrejas eram inauguradas, o que começou a dar um corpo e uma visão maior sobre o cristianismo.
Após a sua conversão o cristianismo cresceu de forma grandiosa, principalmente no seio da elite romana. Por ser de origem judia e romana Paulo teve mais facilidade de tornar as doutrinas de Cristo conhecidas nos dois seguimentos da sociedade. Quando ele fundava igrejas em diversos lugares, ele as instruía por intermédio de suas epístolas, que eram cartas endereçadas aos cristãos de um determinado lugar. Por meio destas cartas a doutrinas cristãs começaram a ser explicadas. Fatores referentes a conduta, moral, família, religião e muitos outros eram constantemente presentes nas epístolas paulinas.
Como tempo, mesmo diante de muitas perseguições, o cristianismo já estava disseminado em todo o império romano, tendo conquistado muitas famílias importantes da política, o que favoreceu mais ainda o seu crescimento. Com Constantino em 305 d.C. essas doutrinas foram aplicadas em toda parte e o cristianismo se tornou a religião do império romano.
O mundo de hoje está sob influência das doutrinas de Cristo pregadas por Paulo. Nosso sistema religioso, judiciário, princípios de regra, moral e conduta etc, são resultados de como o cristianismo alcançou um espaço grandioso na sociedade rompendo séculos e milênios, podendo ser visto em nossos dias.
Anexo

Anexo 1












Anexo 2












Anexo 3













Anexo 4













Referências Bibliográficas


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