Ideologia e ideologias na visão do jovem
Quando falamos sobre jovens o primeiro sentimento que salta aos olhos é a impaciência. Talvez, seja esse um dos principais sintomas que atesta nosso envelhecimento.
A adolescência é aquele período onde explodimos em dúvidas e espinhas, alimentados por um complexo de superioridade que mascara um complexo maior de inferioridade ou vice-versa. Não cabemos em nossas roupas, em nossos desejos e as perspectivas de crescer e assumir responsabilidades nos assusta e afugenta. Existem casos atualmente que a adolescência está sendo prorrogada até os trinta anos. O conforto do lar e a segurança que os pais oferecem, aliados ao sustento financeiro adiam, em muitos casos essa tomada de posição amadurecida.
Percebendo essas questões fica um pouco mais fácil tentar desvendar as angústias que cercam os meninos e meninas que estão passando por esse difícil “rito de passagem”. Tenho trabalhado com adolescentes há mais de dez anos, dando aulas e apresentando espetáculos teatrais. Com esse contato mais próximo pude me envolver mais com a realidade juvenil e de forma catártica reviver minha adolescência. Discutindo problemas e grilos dos meus alunos analisei os meu próprios grilos que ficaram ecoando por tanto tempo.
Falando com eles e para eles percebi que está faltando motivação ideológica para essa enorme população que se encontra na faixa dos 13 aos 18 anos (teoricamente, mas com algumas exceções). A frase de Cazuza nos anos 80 nunca pareceu tão apropriada: - “Ideologia, eu quero uma para viver!”.
Nossos jovens também estão envolvidos nesse dilema, mas, em muitos casos, verifiquei com certa tristeza, que o problema é maior do que eu imaginava, pois, muitos adolescentes não fazem questão de ter ou buscar uma ideologia que lhes preencha a alma. Os jovens, em sua maioria demonstram não necessitar dessa força operante que envolva idéias e ações para levar a sua vida a diante. A ideologia que é buscada é a do bem-estar próprio, satisfação dos desejos e a acomodação de não se preocupar com nada que não seja a sua própria vida.
Valores éticos e morais nem se fala! Arrumar a cama, manter o quarto em ordem, pedir a benção dos pais, ajudar os mais necessitados, nem passa pela cabeça da grande maioria dos nossos jovens, futuros cidadãos ativos de nossa Nação.
É claro que, nesse momento em que estou escrevendo muitos jovens me contradizem, fazendo movimentos solidários e encontrando sentido para suas vidas, auxiliando o próximo, levantando bandeiras nas áreas da Ecologia, da Educação ou das Artes. Infelizmente eles ainda são poucos. A mídia estimula o individualismo a qualquer preço. Vivemos sob o lema “Não tenho tempo a perder só quero saber do que pode dar certo!”. Quem procura outros caminhos está navegando sozinho nesse oceano do mundo capitalista que é desumano ao extremo. Mesmo remando contra a maré é urgente e preciso insistir em contrariar o referencial estabelecido pelo mundo globalizado e procurar partir em busca de movimentos que sejam generosos sobretudo com os que estão de fato necessitando de nosso carinho, ajuda e principalmente atenção.
Nesse quadro atual, arrisco a dizer que um dos problemas centrais, ou melhor o problema fundamental é o afastamento do ser humano de maneira geral e dos jovens por extensão, em buscar a Deus. Essa pseudo auto-suficiência que alguns jovens “arrotam” com certo ar blasé e expressão de arrogância demonstra que as instituições educacionais, que são a família, a escola, os espaços de aprendizagem diversos (cursos de idiomas, escolhinhas de esporte ou artes) não investem nessa perspectiva de proporcionar a reflexão do que é fundamental para qualquer Homem: o de ter um encontro com Deus. Não falo aqui em uma determinada religião ou seita, cada um deve encontrar a sua, mas não se pode ficar adiando por muito tempo essa possibilidade concreta de experimentar a Graça divina que é ter Deus no coração e externalizar isso em ações, palavras e sentimentos. O que assistimos, atualmente é o inverso e quem fala de Deus e sua presença é taxado de careta, reacionário e fanático. Se essas discussões voltarem a ser tema durante as aulas (não em todas, claro, por que ninguém vai agüentar, mas com certa periodicidade) poderemos, nós educadores auxiliar numa formação que amplie o conceito de ser cristão e a vocês jovens evitarem tanto sofrimento e “cabeçadas” desnecessárias nessa vida que já é por demais fria e pragmática.
Quando escrevemos não temos muita dimensão do alcance que os nossos textos terão. Esse ato isolado a frente de um teclado e do monitor de um computador é um movimento inicial, carregado de ideologias e idéias. Quando escrevo, desejo transformar o mundo, a partir de mim mesmo e através dessas páginas de jornal aqueles que dedicaram a atenção a este artigo. Essa pequena revolução acontece como uma onda, tímida, mas insistente, que espero ver se transformar em ideal de vida para alguém que estiver a essa altura da leitura concordando com as coisas que escrevi. Quem sabe assim conseguiremos multiplicar sonhos, projetos, ações e assim melhorarmos nossa casa, nossa escola, nosso bairro, nossa cidade, nosso país e nosso mundo.