quarta-feira, 20 de abril de 2011

Coluna do Guilherme Guaral

O valor da idéias

Nesses milênios de história da humanidade foram registradas e incorporadas ao nosso imaginário, assim como em nosso cotidiano, grandes idéias, pensamentos, considerações filosóficas que ganharam espaço e poder com o curso dos acontecimentos. Grandes revoluções aconteceram de forma fulminante ou num longo processo, anexando conquistas e, sobretudo modificando hábitos, condutas, que acabaram moldando especificidades culturais, políticas, econômicas e sociais.

No campo da História das idéias, predileção dos historiadores norte-americanos, a trilha é seguida dos filósofos gregos aos atuais pós-modernos. Alguns conceitos perduram, envelhecem ou se metamorfoseiam ao longo do tempo.

Um dos exemplos dessa relação de transformação pode ser verificado pelo conceito de cidadania que empregado nas polis gregas denotava um governo plural de todos. Lógico que a palavra todos não incluía as mulheres, escravos, estrangeiros e comerciantes. Durante a Idade Média o conceito praticamente desapareceu, pois não havia espaço nem condições sociais para a sua utilização e muito menos para a sua prática.

Com os ventos humanistas apropriados pelo movimento cultural renascentista o conceito começa a ser pinçado das tradições clássicas da cultura greco-romana e volta a freqüentar os textos dos filósofos, ainda que de maneira muito tímida.

A grande explosão que coloca a palavra definitivamente na ordem do dia é o desenlace da Revolução Francesa, que tem como seus pressupostos básicos a luta pela liberdade, igualdade e fraternidade baseados no exercício da cidadania. O direito a voto, o fim das obrigações feudais, a conquista da educação pública e gratuita e o repeito a todos os indivíduos, sem exceção, se caracterizaram como bandeiras de luta de uma geração, extremamente influenciada pelos filósofos iluministas.

Muitas vezes é enorme a distância entre a teoria e a prática. Os ventos revolucionários que varreram a França no final do século XVIII é uma marca bastante visível desse caso de abuso de conceito, fora da esfera da realidade. A burguesia liderava esse movimento e mesmo arrastando consigo as classes populares, calcadas num discurso da igualdade, desejava e isso ficou nítido com suas primeiras ações, tomar o poder e se emparelhar com o clero e a nobreza, desfrutando dos mesmos privilégios que antes renegava.

E assim aos saltos, entre trancos e barrancos usam e abusam da palavra cidadania. Quando existe o interesse, principalmente dos governos ou das classes elitizadas (no viés econômico ou cultural) em se perpetuar às desigualdades sociais, lança-se no ar a palavra mágica que parece redimir todos os pecados e igualar todos os homens e mulheres: cidadania.

Aliás, no sentido atual o significado está assentado nos direitos e deveres de cada indivíduo para com o outro e principalmente em relação às leis e a ordem instituída em nível municipal, estadual e federal. A cada um de nós é cobrado um preço extorsivo em forma de taxas, impostos e penalidades. Conquistamos alguns direitos como votar, ter um salário digno, educação, saúde pública, ir e vir e liberdade de expressão. Será??????

A mediocridade dos valores morais que nos norteiam é fruto dessa apatia do pensar. Durante a Ditadura éramos proibidos. As novas gerações herdaram o vazio. Não que elas se calem, mas o que nossos jovens andam dizendo e pensando? Cada vez mais cedo meninos e meninas começam a fumar, beber e ter relações sexuais. Se você duvida é só sair nas noites da cidade e perceber esse fenômeno. Entre rocks, funks, gírias, internets e games em geral será que sobra tempo para discutir ética, moral e cidadania. Nesse mundo regido pela lei dura do capitalismo onde o indivíduo vale pelo que ele tem e não pelo que ele é fica praticamente banida qualquer discussão com maior profundidade ideológica ou filosófica. Afinal de contas, para essa geração que é a esperança num futuro melhor, qual é o valor que as idéias podem ter?

E você leitor, tem alguma idéia que queira discutir?

Espero respostas para voltarmos a esse assunto.

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