sexta-feira, 6 de maio de 2011

Coluna do Guilherme Guaral

Lições da grama do meu Jardim

Um dos grandes orgulhos que eu e minha esposa cultivávamos até meados de 2008 eram o gramado e o jardim de nossa casa. Por conta da demanda dos filhos adolescentes resolvemos que o nosso condomínio estava meio distante dos acontecimentos da cidade e resolvemos alugar nossa casa e partir para morar no centro. A vida é feita de escolhas e resolvemos sair temporariamente do que era nosso e viver mais próximo do trabalho e da escola dos filhos.

O ano de 2009 foi bastante turbulento, mas cheio de aprendizagens e lições. O filho mais velho passou para a faculdade e começamos a sentir saudades de estar em casa. Resolvemos voltar no finalzinho de 2009. Quando estávamos fazendo a mudança reparamos que o nosso orgulho tinha sido destroçado. Obra de dois cachorros enormes que nossos inquilinos possuíam. O mato reinava e os buracos davam a sensação que estávamos num campo de pelada arrasado pela falta de cuidado.

Eram tantas as tarefas de recuperação que o gramado e o jardim ficaram um pouco de lado. Minha esposa mais paciente do que eu, voltou a cuidar. Chamamos um funcionário do condomínio e eliminamos o mato. Os buracos, entretanto permaneciam e um restinho teimoso de grama espalhava-se pela parte em frente da casa.

Determinado e com senso prático resolvi comprar alguns metros de brita zero e praticamente eliminei o que era grama com a dureza do material da rocha. A concretude das pedras dava um clima árido ao cenário, mas permitia que andássemos sem tropeçar nos buracos.

O ano de 2010 ia correndo sem grandes novidades ou acontecimentos impactantes. Um fato, entretanto despertou minha atenção. No meio das pedras, a grama começou a nascer e independente da dureza da brita foi encontrando espaço e germinando. Assim como as idéias e novos projetos foram germinando na minha cabeça a grama do meu jardim mostrou que era preciso tomar uma atitude. Tinha pedra demais naquele caminho!

O Projeto da novela surgiu numa noite de festa, quando um dos fundadores da Jovem Tv me contou o sonho que ele tinha em produzir novelas, seriados, programas com dramaturgia. Era a grama querendo nascer entre as pedras dos interesses políticos e das bandeiras que estigmatizam as TVs da cidade em colorações personais e partidárias.

A idéia reacendeu meu desejo de atuar culturalmente na cidade. Achava que a brutalidade da “brita” tinha exterminado essa minha vontade, mas o “gramado” de novos horizontes me impulsionou a seguir adiante, a navegar em águas mais profundas.

Com isso passei a cultivar a novela e o meu jardim. Um movimento alimentava o outro. Resolvi ir retirando as pedras para a grama ganhar espaço. Uma trabalheira danada, mas a grama foi respondendo, queria e quer nascer de qualquer jeito. Comprei terra preta, rego todas as noites e tiro pedras quase todo dia. Assim como atuo como produtor, resolvendo questões, auxiliando e motivando a equipe que já conta com mais de sessenta pessoas.

Outra coisa que aproximam os dois cultivos é o fato de que ali, regando a grama e as flores, os personagens se manifestam em minha mente. Os diálogos brotam e os personagens vão se entrelaçando numa trama que está até mesmo me surpreendendo. Na paciência do cultivo e no contato com a terra, com a água, com as flores e a grama vou ajudando a força da natureza a ganhar seu espaço na luta contra a aparente força da pedra bruta.

Aprendi e aprendo todas as noites que para conseguir realizar nossos sonhos é preciso tomar atitude, ter coragem, ter oração, ter fé e arregaçar as mangas. Cultivar, cuidar, adubar e alimentar. Às vezes, na pressa ou na ansiedade arranco junto com as ervas daninhas grama que quer nascer. Coisas do percurso. Não desanimo e procuro replantar a grama afetada ou jogar de lado, pois talvez ela não esteja pronta, naquele momento, para o meu jardim.

Vamos em frente, sempre, muito trabalho ainda está por ser realizado, talvez o jardim não se torne tão maravilhoso como nós desejamos, mas com o cuidado que estamos tendo, me faz acreditar que as flores serão admiradas e respeitadas. O zelo, a paixão e a responsabilidade extrema nos garantem que tanto o meu jardim quanto a nossa novela vai florescer e nos dar muitas alegrias, nunca esquecendo que temos muitas pedras para retirar nesse caminho.

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