SEM PALAVRAS
Ouvi no rádio. A mãe havia se separado do pai, flagrada em traição. Ela não gostava do padrasto que viera morar com elas e procurava se manter afastada, prudentemente. Um belo dia - belo apenas por força de expressão - o tal padrasto a estuprou enquanto a mãe estava no supermercado. Chorou durante uma semana sem saber o que fazer. Se contasse ao pai, ele provavelmente mataria o miserável que pela segunda desgraçava sua vida. O tempo passou e ela resolveu ir ao médico para saber se engravidara, era o mais urgente a fazer. Não, não estava grávida. Pior: havia contraído a AIDS. Chorou ainda mais. A mãe poderia estar infectada e, quem sabe, também o pai. Agora não tinha mais opções. Ainda assim, escrevia ao programa de rádio em busca de conselhos. São as desgraças cotidianas, aquelas que não figuram nos manuais de ciência humana. Um demônio, a mãe traidora, o pai, ela - e todos aqueles que compartilham tempos tão difíceis...
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